“Se não é do teu interesse, porque terás escolhido fazer o que fizeste?” - perguntar-se-ão os defensores da versão contemporânea da corrente filosófica utilitarista que tão bem parece acolher em si os pressupostos de uma relação modelada nas trocas económicas, pois mais nenhuma outra motivação, pelo menos não lhe dando o mesmo grau de importância, encontra para explicar o comportamento humano, logo este tenha que fazer escolhas e agir. Ao sermos explicados como sujeitos que agem determinados em obter ou satisfazer um qualquer interesse individual, as políticas começam a ser ditadas no quadro deste entendimento da acção do indivíduo: ser impelido para a acção se desta decorrer a satisfação para o indivíduo, justificando-se a acção a partir da satisfação com as consequências dessa acção, com o resultado positivo ou o benefício adquirido.
“Se não é do nosso interesse, deste grupo de cidadãos com quem te identificas, porque terás escolhido fazer o que fizeste?”- perguntar-se-ão os que inscrevem de forma absoluta a representação da sua identidade como definida por um conjunto de deveres inquestionáveis para quem por eles é socializado, numa tentativa de singularizar a afiliação única, tornando-a exclusivo padrão de regulação da acção, que tanto pode ser religiosa, como política, como cultural, por exclusão radical das partes que dele não fizerem parte (por nascimento, por raça, género, ideologia ou religião, entre outras).
Há estudos empíricos que demonstram à saciedade que estes modelos de compreensão da identidade são ambos incapazes de descrever as diversas formas de vida coexistentes no mundo, e fornecem conjuntos de argumentos que, sendo de natureza diferente entre si, convocam o mesmo tipo de ignorância sobre as possíveis motivações para agir e prestam-se, igualmente, a legitimar a violência, por a compreenderem como fenómeno inseparável da regulação da acção, entendendo-a como meio para solucionar conflitos.
Amartya Sen preocupa-se no entanto com queda na esparrela da identidade em que os analistas dos conflitos internacionais ou de violência sectária parecem estar sempre a cair: “impor uma identidade única e fracturante a PESSOAS QUE ASSIM SE TORNAM NOS SOLDADOS RASOS DA BRUTALIDADE POLÍTICA; (…)”. P. 92 Essa imposição de uma identidade única a quem de si se sabe reconhecidamente que a tem que ter múltipla, reforça o poder dos ideólogos fundamentalistas, que assim vêm justificada por autoridade externa a força das suas convicções impostas internamente ao grupo que eles dominam politicamente ainda que o façam em nome de uma crença religiosa, ou cultural, ou o que quer que seja.
Os grupos fundamentalistas islâmicos utilizam este método da exaltação da afiliação exclusiva do indivíduo, próprio dos grupos terroristas que potenciam este efeito, assim como têm impulsos para o fazer qualquer outro grupo, mesmo se na política dos países democráticos ocidentais, que se sinta ameaçado e saiba que a ameaça externa o torna mais coeso desde que reconheça estarem todos os membros imbuídos de um espírito acrítico de pertença e de defesa incondicional da identidade beliscada. O reflexo da sua imagem no espelho que o outro segura na mão para ele se ver pode ter um efeito muito lisonjeador e nada dissuasor, por permite-lhe afirmar-se na sua exclusiva, ainda que possa ser brutal, afirmação de identidade. Ameaçados, o que não fazem aqueles que não estão treinados a controlar-se, ou que recusam ideologicamente essa possibilidade de auto-controlo, para continuar a prosseguir negociações, a convocar meios não violentos para resolução de desacordos? Ameaçadores, quem os consegue controlar de forma democrática?
“Se não é do nosso interesse, deste grupo de cidadãos com quem te identificas, porque terás escolhido fazer o que fizeste?”- perguntar-se-ão os que inscrevem de forma absoluta a representação da sua identidade como definida por um conjunto de deveres inquestionáveis para quem por eles é socializado, numa tentativa de singularizar a afiliação única, tornando-a exclusivo padrão de regulação da acção, que tanto pode ser religiosa, como política, como cultural, por exclusão radical das partes que dele não fizerem parte (por nascimento, por raça, género, ideologia ou religião, entre outras).
Há estudos empíricos que demonstram à saciedade que estes modelos de compreensão da identidade são ambos incapazes de descrever as diversas formas de vida coexistentes no mundo, e fornecem conjuntos de argumentos que, sendo de natureza diferente entre si, convocam o mesmo tipo de ignorância sobre as possíveis motivações para agir e prestam-se, igualmente, a legitimar a violência, por a compreenderem como fenómeno inseparável da regulação da acção, entendendo-a como meio para solucionar conflitos.
Amartya Sen preocupa-se no entanto com queda na esparrela da identidade em que os analistas dos conflitos internacionais ou de violência sectária parecem estar sempre a cair: “impor uma identidade única e fracturante a PESSOAS QUE ASSIM SE TORNAM NOS SOLDADOS RASOS DA BRUTALIDADE POLÍTICA; (…)”. P. 92 Essa imposição de uma identidade única a quem de si se sabe reconhecidamente que a tem que ter múltipla, reforça o poder dos ideólogos fundamentalistas, que assim vêm justificada por autoridade externa a força das suas convicções impostas internamente ao grupo que eles dominam politicamente ainda que o façam em nome de uma crença religiosa, ou cultural, ou o que quer que seja.
Os grupos fundamentalistas islâmicos utilizam este método da exaltação da afiliação exclusiva do indivíduo, próprio dos grupos terroristas que potenciam este efeito, assim como têm impulsos para o fazer qualquer outro grupo, mesmo se na política dos países democráticos ocidentais, que se sinta ameaçado e saiba que a ameaça externa o torna mais coeso desde que reconheça estarem todos os membros imbuídos de um espírito acrítico de pertença e de defesa incondicional da identidade beliscada. O reflexo da sua imagem no espelho que o outro segura na mão para ele se ver pode ter um efeito muito lisonjeador e nada dissuasor, por permite-lhe afirmar-se na sua exclusiva, ainda que possa ser brutal, afirmação de identidade. Ameaçados, o que não fazem aqueles que não estão treinados a controlar-se, ou que recusam ideologicamente essa possibilidade de auto-controlo, para continuar a prosseguir negociações, a convocar meios não violentos para resolução de desacordos? Ameaçadores, quem os consegue controlar de forma democrática?
Amartya Sen, Identidade e Violência, trad. M. J. de La Fuente, Lisboa, Tinta-da-China, 2007
Sem comentários:
Enviar um comentário