As lealdades são para com as pessoas, pensa o soldado Saigo. São para com o bebé que lhe vai nascer e para com a sua mulher, a quem promete regressar vivo da guerra, para com os amigos do seu batalhão, para com o comandante Kuribayashi, que escolhe e prefere para seu líder.
Saigo não faz alianças de lealdade para com ideias de patriotismo político que não sente suas, nem estabelece lealdades com os representantes do poder e da ordem só por estes se anunciarem como tal, como bem percebe o seu Capitão que o castiga frequentemente intuindo a subtil rebeldia muito perto de fazer desequilibrar os pressupostos das relações em guerra. Saigo é portanto um indivíduo que sentimos querer questionar a autoridade sempre que esta lhe pareça ter uma natureza ou origem equívoca, o que numa guerra parece um contra- senso, logo, algo perigoso, a subjugar.
Saigo, obviamente, não é um militar, como faz questão de lembrar quando fala com o seu General e lhe diz que é apenas um padeiro, pai de família. Não pensa como o seu admirado comandante, para quem faz sentido utilizar todas as estratégias mesmo para defender insanidades políticas, sendo que a lealdade da sua pessoa está em primeiro lugar para com os interesses manifestados pelo seu país. Já Saigo é uma personagem que me fez pensar no “bobo da corte” do filme Ran de Akira Kurosawa, a liberdade do vassalo, crítico perante os grilhões do seu senhor, uma par trágico e paradoxal.
Há no realizador Clint Eastwood este tema recorrente da lealdade. No perturbante Mystic River, a quebra de lealdade da mulher de David Boyle, que, por ter interpretado mal os sinais, ou por não o amar, como o filme parece querer moralizar, faz com que o perturbado adulto que sofrera em rapazinho um rapto e violação, acabe por ver determinada a sua morte às mãos dos amigos em paga de um crime que nunca cometeu. A cena final do menino sem pai a desfilar tristemente numa parada, por contraponto à figura ansiosa de uma mãe que sabe porque razão o pai do seu filho foi assassinado, é de uma crueldade sem palavras.
Há no realizador Clint Eastwood este tema recorrente da lealdade. No perturbante Mystic River, a quebra de lealdade da mulher de David Boyle, que, por ter interpretado mal os sinais, ou por não o amar, como o filme parece querer moralizar, faz com que o perturbado adulto que sofrera em rapazinho um rapto e violação, acabe por ver determinada a sua morte às mãos dos amigos em paga de um crime que nunca cometeu. A cena final do menino sem pai a desfilar tristemente numa parada, por contraponto à figura ansiosa de uma mãe que sabe porque razão o pai do seu filho foi assassinado, é de uma crueldade sem palavras.
A traição, ou a lealdade, cobre-nos não só a nós de opróbrio ou de honra, mas todos os nossos, aqueles com quem mantemos vínculos, com quem tecemos uma família, um grupo de amigos, ou um grupo de trabalho, numa sociedade, ou em privado. E isto é mais do que responsabilidade individual. Muito mais. É muito mais difícil e cru. Somos todos afectados pelos actos de cada um e tanto mais afectados quanto o ignorarmos. Na guerra este facto apenas se torna mais relevante, mas a montante, quem decide ir para a guerra, os governantes, o que pensarão eles?
2 comentários:
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Warm Regards
Ran Movie Review
Well...
Thank you.
Isabel
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