sábado, março 31, 2007

subscrevo

"(...) Tanto em relação ao Darfur como às violações dos direitos humanos a mando de Mugabe o mais grave não é, porém, o alheamento dos chineses - tem sido o silêncio da maioria dos dirigentes africanos.
Entre nós fala-se no caso do Zimbabwe, sobretudo porque ele poderá impedir a tão desejada cimeira União Europeia-União Africana, prevista para Lisboa em Dezembro, no final da presidência portuguesa da UE. A UA poderá não vir, se Mugabe continuar impedido de entrar na UE.
Seria, de facto, pena não termos a cimeira. Mas seria uma pena ainda maior Portugal aceitar a conivência de muitos africanos com as atrocidades no Zimbabwe.
As coisas atingiram ali tal ponto de brutalidade que, finalmente, se começam a ouvir algumas críticas de chefes políticos africanos, como os presidentes da Zâmbia e do Gana. A própria UA lembrou timidamente a conveniência de ele respeitar as regras democráticas e os direitos humanos. Há movimentações africanas pressionando Mugabe a sair pelo seu pé.
Mas o Governo de Angola apoia activamente a repressão de Mugabe. A maioria dos governos africanos, como o da África do Sul, manteve-se durante anos surda aos desesperados apelos de auxílio vindos dos políticos perseguidos pelo tirano.
Agora o Presidente sul-africano Mbeki vai tentar mediar o conflito entre Mugabe e os seus opositores internos. Não será de esperar muito desta iniciativa. Na África do Sul apenas o arcebispo anglicano Desmond Tutu se atreve a criticar frontalmente os desmandos de Mugabe.
Aliás,o problema no Zimbawe não é apenas político. Este país já foi rico, mesmo depois de deixar de se chamar Rodésia. Hoje, graças à tirania ali reinante (que expulsou os fazendeiros brancos), o Zimbabwe está na miséria, alastrando a fome.
Com o desemprego a chegar aos 80 % da população activa e a mais alta inflação do mundo, não admira que três dos 13 milhões de habitantes do Zimbabwe já tenham abandonado o país. Perante tal situação, poderá a comunidade internacional assobiar para o lado, seguindo o abstencionismo predominante entre os Estados africanos?
Fazê-lo seria uma forma de neocolonialismo. Esse, sim, autêntico. Tratar os africanos com critérios diferentes dos utilizados em relação a outros povos, nomeadamente europeus, é implicitamente afirmar que a democracia não é para África. É dizer aos africanos que são inferiores."
"Democracia e neocolonialismo" por Francisco Sarsfield Cabral no DN

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