sexta-feira, junho 15, 2007

As cigarras e as formigas 3

“Não há qualquer época da história, exceptuando os períodos estritamente feudais ou patrimoniais, nem qualquer região económica do globo, em que não tenham existido figuras capitalistas do tipo dos Pierpont Morgan, dos Rockefeller, dos Jay Gould, etc.
Apenas os meios técnicos disponíveis de que eles se serviram (naturalmente!) mudaram. Consideravam-se e consideram-se “para além do Bem e do Mal”, mas não foram eles, por muito importante que se possa avaliar a sua influência nas transformações económicas, quem definiu decisivamente qual o espírito económico dominante numa época ou numa região. Sobretudo, não foram eles os criadores nem os arautos do “espírito burguês” especificamente ocidental.” (p.201)

“Pelo conjunto da literatura ascética de todas as confissões perpassa a opinião de que o trabalho honrado, mesmo mal pago, para aqueles a quem a vida não deu outra possibilidade, é uma coisa do profundo agrado de Deus. Neste aspecto, a ascese protestante não trouxe qualquer inovação. Mas não somente levou esta norma às últimas consequências mas criou a motivação psicológica que lhe conferia operacionalidade ao considerar que o trabalho profissional enquanto vocação /Beruf/ constitui o meio mais adequado e, por vezes, o único, para obter a certeza da graça divina. Por outro lado, legalizou a exploração desta disposição para o trabalho, ao declarar o enriquecimento do empresário “uma profissão” vocacionada (p.137)


“O puritano queria ser um homem de profissão - nós temos de o ser.” (p.139)


É neste conceito de “temos” que assenta a ordem económica e ética/económica da nossa sociedade. É aqui que a ascese religiosa se transforma em ética secular, pela qual nós regulamos a nossa vida activa. Para Weber o fundamento religioso da acção continua lá, mas a acção propriamente dita, e o sucesso desta como modelo globalizado, já não precisa dessa fundamentação, nem da recompensa psicológica que se traduzia no conforto do crente perante a aprovação dos olhos de Deus. A recompensa hoje quer-se imediata, vistosa e material. De certa maneira, o consumismo está a pôr em causa o próprio espírito do capitalismo. Não deixa de ser curioso. Agora se isso revela libertação do peso de uma certa forma de vida capitalista burguesa ou se a escravidão perante o dinheiro que se quer mas não se tem a capacidade para ganhar ou para gerir, é que não sei. Com certeza não será o espírito dos mendicantes a ser renovado por aqueles que só têm em comum com eles a acção de pedir, e a de se queixarem da sociedade globalizada. Porque se o fosse era uma outra proposta de vida, válida, a atender, assim parece-me só uma irregularidade na socialização contemporânea. Como é que esta deve ser atendida pela sociedade? E por cada família?

Sem comentários: