sexta-feira, junho 29, 2007

Diversidade

Procuro manter-me fiel a três ou quatro sensações que racionalizo num punhado de ideias. Uma delas corre-me nos neurónios desde que eu tomei consciência: a sensação, e a certeza racional, de que a liberdade é um dos mais inquestionáveis valores na vida de um adulto, e, sobretudo, na vida de um cidadão. Seguido logo depois do muito maltratado, ideologicamente, valor da igualdade, depois o da responsabilidade e, para se perceber a noção dialéctica que eu tenho da existência apesar de uma hierarquização piramidal nos valores referenciados, ponho na base o par valorativo Unidade/Diversidade e o par Universalidade/individualidade. Este meu parágrafo deveria ter uns cinco volumes de justificação. Mas adiante que este é um registo de pensamentos e não uma tese.

Na diversidade há o registo das vozes diferentes. Às vezes corre-se o risco da disfuncionalidade. Um risco menor tendo em linha de conta o remédio a aplicar na cura dessa disfunção: a unidimensionalidade dos discursos e das acções. A atonia social. Há quem goste, quem prescreva e quem preconize. Eu não. Mas também reconheço que sem funcionalidade não há ordem, e que sem esta não há refúgio para os comportamentos sociais que queremos, e esperamos, que tenham um certo grau de previsibilidade. Assim, a disfunção política, pela desordem que pode envolver, não augura uma boa sociedade, e certamente que não seria segura, mas a imposição de uma ordem sem uma base de legitimação assente na discussão, também não preconiza uma boa sociedade.
Ditadura/Democracia, Democracia/Autoritarismo, o prato da balança não pode alternar entre estes dois pesos. Só pode haver democracia, e nesta é que entra o balanço entre dois pratos: o das partes que governam/e o das partes que se lhes opõem.
Que um qualquer governante de um país democrático governe a temer a oposição, ou as vozes discordantes, ou a opinião dos seus cidadãos, não é programaticamente concebível.

É verdade que nós temos governantes na Europa que mentiram descaradamente aos seus cidadãos no exercício dos seus governos e que depois são ovacionados em pé pelos seus pares quando estão para sair, mas isso será talvez manifestação da cortesia e da civilidade no trato que merecem todas as pessoas e, sobretudo, os que se nos opõem, pensando naquelas vezes em que o fizeram com lealdade.

Também é verdade que há governantes que nos mentiram quando andavam em campanha. Há quem diga que essa atitude é inevitável, que é política real, uma questão pragmática na conquista do poder. Não é verdade, nem tem que ser verdade, e há, na teoria e na prática, muitas outras formas. A oposição a essas atitudes, a crítica, não é sinónima de antipatriotismo. Isso é que era bom. Eu, europeísta convicta, defensora de um documento constitucional, não me perturba que haja povos que votem contra esse tratado. É normal, se se vive em democracia. O que me perturba é dizer-se uma coisa e depois nas costas dos cidadãos a remendar-se uma outra, como se as pessoas que os elegeram não tivessem capacidade de decidir um assunto que diz respeito a todos, mas já tenham capacidade para os eleger, aos sábios.

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