É mais fácil escrever sobre a dor, disse Bendrix. Ou disse algo afim com isto, já que eu procurei e não encontrei o livro.
“Na dor”, lembro-me eu de Greene o ter posto a escrever isto, ou algo assim parecido com isto, “somos todos mais individualistas”. Bendrix a escrever sobre a sua dor, a que o ofuscava para a dos demais, a dor da perda numa luta por um bem.
Nos textos que recebi dos meus alunos, aos quais, inadvertidamente, pedi que escrevessem sobre ” O meu lugar no mundo é…”, a dor foi o tema glosado em todos os tons. Quando finalmente no fim do ano os deixei escrever sobre o que eles pensam e sentem e não sobre como pensam sobre o que outros pensam, a mágoa transbordou daquelas páginas e veio direitinha cair-me nas mãos.
Eu nunca pude bem com a dor dos outros. Nem sei como alguém pode poder com uma dor de quem desconhece totalmente a sua força e a sua forma de escoicinhar. Eu só posso bem com a minha dor, porque esta é minha conhecida, e vamo-nos entendendo. Mas a dor dos outros…essa é que é o diabo. Sei lá que palavras não soube inventar durante o ano inteiro, eu a optimista militante, para lhes lavar esse sentimento e os preparar para outro discurso e outra forma de entender a existência. Falhei, não porque não tivesse cumprido o ritual da transmissão de conhecimentos, mas porque nenhuma das minhas palavras serviu de consolo no que quer que fosse, nenhuma iluminou um caminho da racionalização dos desejos, da sublimação das frustrações em oportunidades de conhecimento.
Tenho no meu regaço textos individuais, e não sei se foram fáceis de escrever, mas sei que são difíceis de ler.
quarta-feira, junho 20, 2007
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