Há dezoito anos, numa aula de Estética do curso de Filosofia do quarto ano, na Universidade de Lisboa, discutia-se o conceito de sublime em Hegel. Estava uma tarde de calor, e a percepção de uma intensa luz branca dentro da sala preenche hoje os espaços da minha intermitente memória. Nessa manhã a notícia sobre o massacre na praça de Tiananmen tinha a maior das atenções por parte dos meios de comunicação e da população. Eu cheguei à Faculdade, e na minha aula discutia-se o sublime em Hegel. Sem sobressaltos. Ainda hoje não sei bem se isso foi exemplo de uma arte de quem conhecendo demasiado bem o relativismo dos acontecimentos históricos se ocupava deliberadamente com o fundamental, os conceitos, ou se era uma tão grande distracção da realidade por parte de quem não mais sabia que preocupar-se com o acessório.
Mas a deliberação de querer esquecer o passado não equivale ao facto de esse passado não ter existido. Nem mesmo para o regime chinês.
Mas a deliberação de querer esquecer o passado não equivale ao facto de esse passado não ter existido. Nem mesmo para o regime chinês.
Na entrevista ao presidente Bush, conduzida por Bob Woodward, é-nos revelado que o presidente ao ser questionado sobre o papel que entende ser o que a história lhe atribuirá no futuro, disse: "‘History,’ and then he took his hands out of his pocket and kind of shrugged and extended his hands as if this is a way off. And then he said, ‘‘History, we don’t know. We’ll all be dead.’”
Pois, estaremos mesmos todos mortos. Só que há pessoas que não concederam nenhuma procuração aos líderes mundiais autorizando-os a mandarem matá-las. E isso também terá uma tabuleta na história.
Pois, enquanto houver tabuleta, ou alguém para a ler.
Mas o sofrimento esquecido não equivale a sofrimento não existente. Isso nem mesmo a propaganda o consegue fazer.
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