Em política quando se perde a fé numa ideia, ou numa pessoa e nas suas ideias, faz-se o quê? Retira-se o apoio. E se esse apoio for não apenas considerado como necessário, mas sinal absoluto de "quem não está comigo está contra mim", sendo que eu tenho o poder de transformar a aversão em agrado mesmo se sob a lei do medo?
Diz-nos Montefiori: "Mas os pensamentos de Estaline, em 1937, revelam a razão mais lata do iminente assassínio de centenas de milhar de pessoas aparentemente por escassa razão. "Talvez se possa explicar pelo facto de terem perdido a fé", disse, dirigindo-se aos Velhos Bolcheviques"." p. 214
Mas a razão da perda da fé não é uma escassa razão no que ao seu peso histórico diz respeito, e às vezes nem sequer o é do ponto de vista da história pessoal, é-o sim do ponto de vista de uma ideia de política assente numa concepção aberta e livre de discussão, de adesão e crítica ideológica, o que do ponto vista da história das ideias é uma razão pouco mais que nascente, convenhamos.
O que me espanta é como tanta gente, tão depressa, reconheceu no terror enquanto forma de fazer política, algo sem justificação. O que me espanta não é a violência, mas sim haver tanta gente contra a violência como forma civilizacional de derimir conflitos. Que se saiba dizer ou pensar o contrário do que se aprendeu historicamente a fazer, eis o que é fascinante. A isto chama-se dar lições de moral. A democracia sabe que não pode deixar de se comportar como velha mestre-escola que não descura nunca certos valores pedagógicos que suportam a sua comunidade educativa, como os que afirma que existem acções correctas e incorrectas, ideias defensáveis e outras que nem tanto, boas avaliações por bons desempenhos e reprovações quando não se cumpre os objectivos clara e inequivocamente determinados.
O nosso primeiro-ministro não quis comportar-se como um velho mestre-escola na Rússia de Putin, não se bateu pela democracia. Comportou-se como um azeiteiro daqueles que mistura o óleo com azeite a pensar no lucro e no mercado. Havemos todos de ficar mais ricos. É uma outra forma de fé, de perda de uma fé ou de não ter fé nenhuma. Um dia destes nós iremos descobrir isso. E entretanto os anos vão passando. Para o país pode ser um incómodo, mais um nesta sucessão de governantes, mas para cada um de nós é a nossa existência pública, finita.
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