domingo, junho 10, 2007

As cigarras e as formigas

- Diz-me, Ana, como é que não saímos deste arremedo de elites há tantos séculos? Mas o que fizeram afinal as revoluções que não cumpriram o seu objectivo de transformação?

A Ana falou-me de D. João II e da substituição de elites. Os mesmos tons e modos para pessoas pensadas para serem diferentes. Uma aristocracia fascinada com a pose e com o traje.
Falou-me da burguesia dos Países Baixos para quem o dinheiro servia para investir antes de se pensar em comprar a ostentação de si e dos seus.

Elegância versus contenção, gasto versus poupança, aparência versus sustentabilidade financeira.

E no entanto... parece tanto uma luta entre a grandeza e a mesquinhez. De um lado e do outro das personagens desta história. Uma luta de formas de vida. Mesmo se uma pequena luta. E sobretudo pelo dinheiro, ou falta dele, que sustenta, ou devia sustentar, essas formas de vida. O ridículo é a moral da história. É uma moral real, mas nem por isso deixa de ser ridícula. Alarvidade, que constrange, quando se pode dizer-se: "Eu não te avisei..." Mas todas as formigas o podem dizer às cigarras. Terão sempre essa oportunidade. Claro que uma cigarra, se o for verdadeiramente, nem ouve. Os outros vivem para servi-la ou para a incomodar. Luta de irritações. Quem me dera que fosse de declínios ou ascensão de formas de vida, claramente, e não este, este, ressentimento mútuo.

Sem comentários: