Ora todos estes casos particulares são-me proporcionados pelo estudo do que é a "justiça": através deste verei que a equidade é algo que, em si mesmo, devemos procurar, que não somos coagidos a ela pelo medo nem atraídos por prémios, e que não é justo quem, na prática desta virtude, tem outro objectivo para lá dela mesma. Se eu me tiver apercebido e embebido desta verdade, se eu já souber esta lição, para que me servirão os preceitos? Ministrar preceitos a quem já conhece a teoria é supérfluo, a quem ainda a ignora é insuficiente, porquanto não basta conhecer os preceitos, é necessário saber igualmente a respectiva razão de ser. Pergunto eu: os preceitos são necessários a quem possui uma opinião correcta sobre o bem e o mal, ou a quem não a possui? Quem a não possui nada beneficiará com os teus conselhos, já que tem os ouvidos atentos à opinião do vulgo, a qual é contrária à tua. Quem já possui uma noção correcta do que devemos evitar e procurar, esse sabe muito bem como há-de agir, mesmo que se lhe não diga nada. " (p. 482 do livro Cartas a Lucílio)
Assim argumentava Aríston.
Respondia-lhe Séneca, o filósofo das exortações e dos conselhos, mestre e conselheiro do imperador Nero, essa alma que acabou por escapar aos conselhos/preceitos do seu pedagogo.
"Eu admito que, por si só, os preceitos não sejam eficazes para corrigir as convicções falsas do nosso espírito; são todavia, úteis, desde que aliados a outros métodos. Por um lado avivam a memória; por outro, questões que, vistas na globalidade, podiam parecer confusas são entendidas com maior clareza quando encaradas separadamente. Se assim não fosse teríamos de considerar supérfluas as consolações e as exortações; ora nem umas nem outras são supérflua; logo, os conselhos também o não são." (p. 485)
2 comentários:
Um bom fim de semana para a blogueira filosófica.
Abs.
Muito obrigada!
saudação,
isabel
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