domingo, julho 01, 2007

O velho, o menino e a Europa

Uns quererão que seja o moço pequeno a montar o burro, outros o pobre velho a quem o maganão do moço quer passar a perna, outros ainda advogam que subam os dois hominídeos ao burro, para, mais à frente, outro alguém considerar que isso é abuso desabusado da montada.
A moral da história é a de que não podemos agradar a todos os que nos vêm, e que, por isso, há que fazer o que decidirmos ser mais certo. Certo? Mais ou menos certo. Porque no que a assuntos públicos diz respeito, e em democracia, quem deve decidir o que é mais certo ou errado? Se cada um decidir fazer o que for mais certo, e puxar para seu lado, isso resulta em que tipo de orientação? Uma rebelião constante, um sistema social ingovernável? Ou uma sociedade hedonística e prazenteira de si para si?

No século XXI, e com um lastro profundo de teorias e, sobretudo, práticas antidemocráticas, como devemos orientar as forças dos governados para que só estas possam efectivamente legitimar a acção dos governantes?

Entre a proposta habermasiana de uma comunidade de discussão universalizada em cada acto de comunicação, a ideia nietzscheana que propõe o culto do herói e do governante solitário e senhor de si assim bem como dos outros que não o souberam ser, e a ideia pós modernista de que, no fundo, entram explicações e saem explicações, e estas não passam de ficções que, ao limite, se igualizam e se volatilizarão no "nada" cósmico, onde fica a existência individual/pública de cada um?

Como sabe um governante que é tempo de ouvir, de aprender, de atender, e depois decidir e escolher? E cada um de nós? Como escolhemos? E porquê?

Não me parece que receber com apupos e vais o primeiro-ministro à entrada da Casa da Música, no Porto, seja um sinal de grande estratégia da oposição (parece sempre mais a manifestação de uma brigada de activistas, o que, em si, é legítimo. Inestético, quiçá pouco ético, em tempos de iniciação de um trabalho na presidência europeia, mas legítimo politicamente), também não me parece que Marques Mendes tivesse procedido bem com aquela discurso retardado do tipo: Agora há que penalizar o governo na eleição da Câmara de Lisboa, vá lá, não lhes dêem “balão de oxigénio”. Estes discursos, de intentos tão óbvios, quanto apalermados, agudizam os sentimentos de frustração dos votantes tradicionais do PS e não me parece que arregimentem os descontentes. Incomoda o tempo do discurso. Porquê dito agora quando saiu uma sondagem que, finalmente! (se tivermos em conta a percepção empírica de um generalizado descontentamento), dá conta de uma descida na intenção de voto do eleitorado no PS e não antes? Porquê repisar certos temas, casuísticos, ao invés de os reclamar para uma análise ao nível do da produção e implementação de certas ideias anti-sociais democráticas numa sociedade democrática?

E porque não decidir-se pelo aprofundamento do que se entende ser ideais sociais democráticos para Portugal, para a Europa e para o mundo? Para que quando um governante democrático viajar, e quiser fazer negócios com parceiros eticamente pouco recomendáveis, não se esqueça de que jurou solenemente cumprir uma constituição, que, com certeza, tinha no seu preâmbulo um enunciado de direitos, os quais não são propriamente pão-de -ló para dar a burros.


E agora que a Europa tem na presidência portuguesa uma das suas mais fortes representações para os próximos seis meses, apetece-me desejar-lhe bom trabalho.

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