segunda-feira, julho 02, 2007

Os factos e as promessas

Quando eu prometo algo a alguém crio uma realidade futura. Ainda não é um facto, não pode ser validado ou invalidado, mas cria uma realidade expectável, cria o facto de eu pôr alguém a aguardar por algo. À espera de algo que eu lhe disse que há-de vir.
Na vida pessoal de cada um há gente por aí com promessas por cumprir. Prometeram por hábito, por querer agradar a todo o custo, para escapar a uma situação incómoda, por distracção, porque não mediram o tempo ou o esforço que o cumprimento da promessa exigiria e não sabem depois como cumpri-la, por incontinência verbal. Há também que disso tenha consciência e se justifique.

Em política, nos processos eleitorais, parece que se interiorizou por parte de todos os todos os agentes envolvidos a acção, dita de natureza inevitável, de fazer promessas que, depois, enfim, hão-de ser cumpridas ou não conforme as razões que se encontrem para justificar as suas concretizações ou a sua suspensão. Como se o processo inevitavelmente os arrastasse para esta forma discursiva. Como se não houvesse outras formas de se apresentar a uma eleição. E, de certa forma, não há. O discurso do político em eleições é um discurso prepositivo, de projecção da vontade e do poder de realização dos candidatos num futuro. A questão, a ser problemática, é-o quando se sabe à partida que essas promessas não vão ser cumpridas, nem de perto nem de longe, quando são estratagemas para ludibriar alguém e induzi-lo a uma acção no presente que beneficie o prometedor.

Os factos, podendo ser, e sendo-o muitas vezes, passíveis de manipulação, permitem no entanto a sua análise, a sua investigação, e uma certa reposição de ideia de verdade ou falsidade, com uma durabilidade no tempo que só a destruição massiva de arquivos, eliminação de testemunhas, e silenciamento repressivo por parte dos operacionais envolvidos, envolverá no silêncio. Também acontece. Há factos que permanecerão para sempre inverificáveis. São os chamados crimes perfeitos contra a humanidade.

Das promessas ficam-nos as palavras e as reacções humanas a essas palavras, nos factos ficam-nos as palavras, a reacção humana a elas e também um confronto com uma realidade verificável (de outras palavras, de coisas, de mundo). Às vezes com muito trabalho para mostrar os factos sob o manto de “branqueamento” da história narrada.

No serviço "FactCheck", que está a operar na análise dos discursos dos candidatos à presidência americana, os autores chamam às promessas dos candidatos "Pie in the sky". A estas promessas há apenas uma forma de os especialistas reagirem: Serão os eleitores a terem que decidir quais dessas promessas são boas ou más ideias, sendo que as pessoas devem exigir que os candidatos expliquem de que forma pretendem tornar essas ideias exequíveis, quanto custarão e onde pensam ir buscar o dinheiro. E, acrescento eu, que estas perguntas não impeçam a proposta de novos projectos e de novas formas de enetender a governação social, que não se prende exclusivamente com financiamentos económicos. A escolha de um programa escolar, por exemplo, é um sinal de uma ideia para a educação e que não pesa necessariamente mais sobre o erário público.

O mesmo apetece dizer aos eleitores dos candidatos à câmara de Lisboa. Pese embora o delírio no discurso das promessas esteja de certa forma contido pela tremenda situação económica da autarquia, há ainda quem prometa pelo menos governar com rigor. Que planos e com que parcimónia no entendimento e aplicação da ideia de rigor?

No site do Jornal da Praceta temos para análise o programa de 6 dos 12 candidatos à Câmara de Lisboa.




" We leave it to our readers to decide whether any or all of these are good ideas or bad ideas. We merely note here that the candidates said little about how they planned to deliver on those promises, how much their plans would cost or who would pay."

Factcheck
Brooks Jackson, with Viveca Novak, Justin Bank, Jessica Henig, Emi Kolawole, Joe Miller, Lori Robertson, Carolyn Auwaerter and Allie Berkson

Sem comentários: