Só o soube hoje. Estava a ler o blog Habermasian resources quando li o título "Jürgen Habermas writes an obiturary for American philosopher Richard Rorty". O quê? Richard Rorty morreu?!
Morreu no dia 8 de Junho.
Tive a imensa sorte, e o privilégio, de conhecer e de poder falar pessoalmente com o filósofo. Foi um dia, na Fundação Gulbenkian. Estava sentado numa pequena sala onde ia discursar, à espera que o público chegasse. Os conferencistas estavam em maior número do que pessoas presentes para assistirem. O ambiente parecia-me a mim constrangedor. Só pensava no desperdício de inteligência e de saber ali derramado. O filósofo Rorty esteve sempre calmo, sem manifestar qualquer emoção, de braços cruzados, enquanto o tempo se arrastava. Era um homem alto, forte, sem pretensiosismo nos gestos, na fala, no pensamento. Era como a sua escrita. Depurada e directa, muito limpa. Sem querer agradar, mas sem tiques de vedeta, um homem absolutamente disponível para ouvir e para falar, sem ansiedade.
Um grande filósofo contemporâneo que quando alguém anónimo, numa assistência inócua, ganhou coragem e se lhe dirigiu perguntando se lhe pode fazer uma pergunta, ele se levantou imediatamente preparado para responder, inclinou a cabeça para o lado da interlocutora, pôs os olhos no chão e escutou a pergunta.
Richard Rorty foi um dos filósofos com "o" qual passei mais tempo durante os anos de preparação do meu doutoramento. Ele, Lyotard, H. Putnam, Rawls, Habermas e, sobretudo, o meu bem amado Apel, são as estrelas maiores que fazem parte do meu universo conceptual. Rorty morreu. E eu detesto a ideia de ter morrido um filósofo com o qual eu não concordava, não podia concordar, e que me fez tanta falta para eu aprender porque não concordava com ele.
De olhos no chão, e de cabeça inclinada, para o poder continuar a ler melhor, assim estou eu hoje Prof. Rorty. Sentida recordação.
E como é que eu não soube antes da sua morte? Que parvoíces me distrairam para este acontecimento?
sábado, julho 07, 2007
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