Não compreendo duas ou três coisas que ouço por aí dizer a respeito das eleições directas no PSD :
1. A ideia de que estas eleições fazem mais mal que bem ao partido. Não vejo em que é que o processo electivo seja em que estrutura for, e por força de razão numa estrutura partidária, lhe possa fazer mal. As eleições são processos que sustentam o próprio processo de escolha democrática e mal andarão os partidos cujo secretário-geral seja preferencialmente eleito por manobras do aparelho e não por sufrágio dos seus militantes depois de uma campanha. A eleição não foi bem conduzida pelos candidatos? Paciência. Anote-se e vote-se em conformidade. Também há votos de protesto. É o que há, e será melhor saber como se comportam os candidatos em eleições, agora, do que descobri-lo, tarde de mais, nas legislativas. No PS a conquista das eleições por Sócrates ter-lhe-á dado uma legitimidade (política, sem descurar o seu reforço psicológico) acrescida no exercício das suas funções como primeiro-ministro. Obviamente isso não foi garantia de que ele seria um bom primeiro-ministro, mas foi garantia de que, pelo menos, sabe como convencer outrem a votar em si. E isto é o trampolim para o exercício do poder em democracia. E não é uma tarefa fácil. João Soares que o diga, ou Manuel Alegre.
2. A ideia, defendida ontem por Menezes, de que, depois das eleições, tudo o que se disse será eliminado como se por uma esponja, sendo então o momento de incluir e de se aceitar todos os adversários. Se as divergências fossem de ordem estratégica/ideológica faria sentido dizê-lo, mas os dois concorrentes acusaram-se mutuamente de faltas graves de carácter e, pior, de estarem a manipular dados e informações, o que é um caso para sanção disciplinar grave. Dizer que tudo se acalmará depois é não querer retirar consequências do que se afirmou, é reduzir tudo a um (mau) jogo de palavras. Desacredita quem proferiu as sentenças e quem delas foi acusado e não pode reagir com assertividade e exigindo reparação. É um mau hábito fingir que nada aconteceu e que ficamos todos amigos como dantes. Os partidos precisam de resolver crises e não de fingir que elas não existem.
Curiosa a analogia da iconoclasta Filomena Mónica ontem em comentário no Rádio Clube Português. Esta eleição lembra-lhe essas muitas outras eleições no século XIX, cheias de casos de “chapeladas eleitorais” e outras estórias de caciquismo e eleições viciadas. O que faz algum sentido num partido que se denomina como o mais português de Portugal, a comentadora o disse.
3. A ideia de que deve haver uma elevação especial no trato em campanhas entre adversários do mesmo partido para que não se ponha a unidade do mesmo em perigo. Sinceramente. Andámos tão ciosos a defender as realidades políticas dos outros países e quando a passamos a viver portas dentro comportamo-nos como vestais a guardar o fogo juvenil da nossa democracia. O único risco que um partido corre é de não ter vozes discordantes e candidatos dissemelhantes que elevem as discussões e o combate político pelos lugares. A democracia portuguesa pode não ter ganho muito com esta eleição, mas, sem ela, ainda ganhava menos. E alguma coisa os líderes futuros do PSD devem ter aprendido com a experiência. Espera-se. Que a mim só me interessa o futuro de Portugal e não o do PSD, entenda-se que não o confundo com o futuro dos partidos, e no entanto, não o confundindo, também não posso radicalizar na sua diferenciação. Não enquanto não houver uma democracia mais directa.
sexta-feira, setembro 28, 2007
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