sexta-feira, setembro 28, 2007

Desde quarta-feira que ando a pensar na Clarinha. A Clarinha dizia-me, de dentro do seu corpo de uma beleza toda em filigrana, que só gostaria de se apaixonar por um homem que escrevesse sobre ela. Não sei o que eu, através do meu olhar lacustre e anguloso, lhe dizia, mas pressinto, conhecendo-me, que devo ter desejado que isso lhe acontecesse e terei certamente sorrido sem uma ponta de ironia pelo seu gosto a melodrama.

Ando a pensar desde quarta-feira na Clarinha por causa de uma notícia que li nessa manhã no jornal Público. O suicídio do casal André Gorz e Dorine. E sei que nesse dia longínquo estávamos a falar da existência um casal assim, de amor que ela pressentia existir em algum lado e que eu nem adivinhava então.

“Sur le papier, j’étais capable de montrer que l’amour est la fascination réciproque de deux sujets dans ce qu’ils ont de moins dicible, de moins socialisable, de réfractaire aux rôles et aux images d’eux-mêmes que la société leur impose, aux appartenances culturelles. Nous pouvions presque tout mettre en commun parce que nous n’avions rien au départ. Il suffisait que je consente à vivre ce que je vivais, à aimer plus que tout ton regard, ta voix, ton odeur, tes doigts fuselés, ta façon d’habiter ton corps pour que tout l’avenir s’offre à nous.”
André Gorz, Lettre à D.

Sem comentários: