quarta-feira, setembro 19, 2007

Caracóis e imperiais bem geladas aqui para esta mesa, se faz favor.

Ando há semanas para escrever sobre um, ou dois ou mesmo três livros.
Li um livro nas férias do verão. Um livro pequenino que começava com uma pergunta. É, como eu gosto.
Ando há semanas também para falar das exposições sobre comunicação política que ouvi e registei na Universidade do Minho. Por isso, ando há semanas a tentar assestar os meus neurónios para aquilo que é e não para aquilo que eu julgo que deve ser. Nas cidades como nos sistemas institucionais, nas pessoas como nas casas.
Não vou falar dos cochichos e sorrisos larvares, a roçar o esgar, dos secretários de estado da Educação deste meu país durante um programa de debate na televisão, assim como assim entre as atitudes e comportamentos de indisciplina deste meu ministério e a atitude leviana do Ministro dos Negócios francês a falar de guerra eu aguento melhor com os nossos meninos tonecas. É o fado. E não vou falar do estado do sistema de educação no que à ausência de ideias, uma que fosse, para orientar o trabalho de formação da identidade do cidadão. Não, o ministério comporta-se como associação patronal que exige números para exportação e há-de atingi-los, e havemos de figurar nos relatórios da OCDE em lugares mais convenientes. E alguma coisa tinha que ser feita, não digo o contrário. Não vou falar disto. Nem vou dizer que nunca o ministério da educação me pareceu tão bem guardado com a duplicação de forças de segurança à porta, ou será tão acossado? Estamos todos a atingir o zénite educativo e não nos sentimos agradecidos, ingratos que somos. Não vou falar disto. Dos horários absurdos daqueles alunos que irão fazer em dois anos o ensino básico obrigatório, ou da multiplicação de cursos e cursinhos em cada Escola, nem da falsidade de se afirmar que fecharam escolas sem condições, ou que agora é que os professores estão a ser avaliados adequadamente, enfim. Nem daquilo, do debate dos pretendentes a líderes do maior partido de oposição. É porque se começar a falar sei que vou começar a defender mudanças de regime e outros temas quejandos que não domino a não ser com a emoção.

Vou falar de um livro, pequenito, que eu li nas férias. É um livro de Raymond Boudon. Não conhecia o autor de lado nenhum quando comprei o livro. Comprei o livro porque depois do título me chamar a atenção, a tabela de conteúdos me convenceu. E gostei de conhecer o senhor Boudon. É um francês que escreve sobre política e filosofia com a simplicidade de exposição de ideias anglo-saxónica, mas sem descurar a comparação com a filosofia continental. Mais abrangente, desde logo. Não concordo com tudo o que o filósofo/sociólogo escreveu, mas aprendi com ele, e, sobretudo, considero que ele procurou claramente responder a uma pergunta fundamental daquelas que cabe no objectivo mais vasto que é o de sabermos como se formam as nossas crenças/atitudes, do ponto de vista de uma sociologia das ideias, vamos lá, que nem sabia que esta área académica existia e já estou convicta da sua necessidade absoluta. Utilizando na sua análise a perspectiva da racionalidade cognitiva, e não a psicológica ou a de determinismo social, por exemplo. Método mais próximo do da filosofia, portanto. O livro intitula-se Os intelectuais e o liberalismo, e começa com uma pergunta: porque é que os intelectuais, entenda-se os produtores de ideias (ena, começamos logo com um vocábulo marxista a assinalar o trabalho do intelectual), na sua grande maioria, recusam o liberalismo?
Será? Porquê, então? Ou, porque não?

Sem comentários: