terça-feira, outubro 02, 2007

As elites do PSD

"Em geral, as elites portuguesas não se distinguem por nada que tenham feito.
Não têm o hábito de se elevar e, em consequência, resta-lhes empurrar o povo para baixo quando ele se chega muito perto.(...)




(...) as elites do PSD, no fundo, não são tão elites quanto isso. Na tradição nacional, sempre esperaram que o seu lugar lhes fosse guardado e cedido: no conselho da administração como no conselho de ministros. Nos intervalos do poder escolhiam um caseiro para tomar conta do partido. Da mesma forma, estes legítimos representantes da respeitabilidade cavaquista continuam a achar que o PSD tem de ter lugar cativo na sociedade portuguesa, apenas porque sim. Sempre desprezaram a ideologia a favor de um suposto monopólio do "saber governar". Fizeram o elogio dos self-made man para depois os acusar de populismo. Fugiram das causas sociais e avisaram o seu povo para se manter afastado do "politicamente correcto" Repetiram durante anos que a iniciativa pública é incopetente e a iniciativa privada é virtuosa. Lembraram que se fizermos tudo para para beneficiar os investidores e os empresários, o mecanismo do mercado se encarregará de todos. (...) E agora choram: mas este foi o partido que eles fizeram."

Rui Tavares, "Chorai elites" no jornal Público.

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"Escrito por mim (Pacheco Pereira) no Diário de Notícias em Janeiro de 1998:

O desprezo nefelibata de alguns dirigentes social-democratas, que se consideram "barões" e serem a elite do partido, tem tido com a própria vida interna do PSD, com que não perdem tempo e consideram abaixo do seu standard, tem tido como consequência o entregar dessas estruturas intermédias aos pequenos interesses clientelares, mas também o abandono à sua sorte de muitos militantes sinceros e idealistas que se sentem cada vez mais perdidos. Este divórcio vai-se acentuando, aquele que separa o "partido de militantes" da fundação e dos anos difíceis, como um novo tipo de clientelas que vêem no PSD essencialmente o partido do poder, o partido que detinha o poder, logo os lugares.Basta consultar as biografias de alguns dirigentes locais vindos da JSD ou do aparelho partidário, para ver como nos anos em que o PSD esteve no poder se acentuou a ligação entre os cargos partidários, e os cargos de nomeação governamental, associados de um modo geral à ausência ou ao abandono de qualquer actividade profissional própria, ou seja à perda de independência económica em relação ao partido. Para essas novas clientelas o partido tornou-se o emprego e a carreira política a forma de ascender profissional e socialmente. Por muito que encham a boca como uma espécie de clubismo social-democrata, o partido enquanto realidade política e cívica significa para eles muito pouco. A sua motivação é essencialmente interna - e do poder interno que precisam para manter os lugares. Actuam como um sindicato e estão dispostos a tudo para manter o emprego, mesmo que isso signifique matar socialmente o PSD."
Pacheco Pereira no Abrupto

Análise que se pode fazer igualmente para o PS tendo em conta a sua passagem pelo poder. Vamos ver quanto tempo ele vai demorar a trasformar-se num clube de empregados do poder de Estado.




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"Cito Santana: "Acho que o País está doido, com todo o respeito. Por isso não continuo a entrevista. O País tem de aprender." Eu sei que a memória do pessoal é curta, mas ouvir Santana dizer "o País tem de aprender", em tom professoral, sabendo nós o estado em que deixou o País, é a mesma coisa que ver um talibã a discursar sobre a qualidade da estatuária budista - não bate certo. É verdade que a SIC se portou mal e que não foi lá muito esperta ao esconder as imagens do que se passou, mas a indignação de Santana é apenas uma mistura de marketing e sobranceria. Pessoalmente, dispenso. Embora numa coisa eu esteja de acordo com toda a gente: é sempre muito mais interessante ver Santana Lopes a sair de um estúdio de televisão do que a entrar nele."
João Miguel Tavares, "ACHO QUE O PAÍS ESTÁ DOIDO, COM TODO O RESPEITO", Jornalista, DN on line

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