quinta-feira, novembro 29, 2007

O mundo dentro de uma carta

Chega-me uma carta da UNICEF a falar sobre o programa Reidratação Oral. Cinco saquetas de sais de reidratação oral (um composto de sais minerais e açúcar), a 0.05 euros cada, podem ajudar a repor os níveis de líquidos de uma criança que os perdeu por desidratação e salvar-lhe assim a vida.


Ainda que os esclarecimentos não abundem e seja o Chade, que é contra o processo de adopção como processo de filiação, a ter levantado a hipótese, cada vez mais plausível, de rapto de crianças, a verdade é que a notícia como a que a ONG francesa protoganizou, a Arche de Zoé, deixa-nos num estado de torpor. Porque de uma boa intenção se consegue criar o caminho para o inferno: raptar crianças é acto de maldade. Daí que não sublinhemos as vezes que são necessárias a importância de programas como o da reidratação oral ou os da distribuição de Plumpy'nut às crianças famintas de África.

E façamos por confiar nos produtores e distribuidores desses produtos, evitando pensar: a quem é que este consumo elevado de produtos financiados pela UNICEF interessará além dos mais importantes e óbvios interessados que são as crianças? Não quero enveredar por aqui. Quero assinalar a importância dos programas em causa.

Também não quero enveredar pela questão de estarmos em 28 ou 29 na lista apresentada pelo relatório do Desenvolvimento Humano de 2007 (que li através do endereço disponibilizado online pelo jornal Público). Uma discussão bizantina se comparada com a discussão que a Europa, que vai realizar uma cimeira com África, deverá preparar para conseguir exigir resultados políticos e técnicos a si própria e aos seus interlocutores, no quadro da análise do relatório PNUD que aponta África como o continente onde o índice de desenvolvimento humano é baixíssimo. Não se pode ignorar o desgoverno de muitas lideranças africanas, nem a semi-indiferença de uma Europa boazinha mas com comportamentos pouco consistentes no que a uma política externa exigente com África diz respeito. Se têm má consciência colonizadora resolvam a questão, mas não ignorem as arbitrariedades de líderes corrompidos, e estejam sobretudo acima de si próprios.

Mas com o tipo de líderes europeus que se vergam aos interesses comerciais ou nacionais antes dos interesses da paz internacional e da salvaguarda dos direitos humanos (exceptuando aqui e ali a senhora Merkel, mas nem sempre), estamos mesmo a ver cada Estado desta nação Europa à procura com uma lupa do seu lugarzinho na lista, e o resto são hieróglifos ou discursos para consumo de pasta de papel em jornal.

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