Ouço e procuro equacionar o puzzle de razões que levaram à luta armada em Moçambique. E no entanto a sua necessidade, a sua inevitabilidade, esteve a um passo de ser negada, pois na imensa contradição dos meios a utilizar poder-se-ia ter avançado para as negociações e para a independência como um direito inquestionável dos povos colonizados.
E penso na contingência das decisões históricas, na real possibilidade de tudo aquele sangue ter podido sido resgatado se os governantes portugueses tivessem menos enquadramento vivencial assente na ilusória ideia de um império uno e indivisível e mais na ideia de mundo das nações.
Mas o documentário não nos leva para um lado ou para outro no que à defesa da ideia de autodeterminação dos povos diz respeito, deixa-nos perceber como os próprios actores viveram esses tempos conturbados e cheios de dúvidas e de pressões internacionais, de vontades cruzadas nos enquadramentos culturais e sociais da época e que hoje nos aparecem quase límpidas enquanto explicações dadas por pessoas inteligentes, conhecedoras e cidadãos conscientes nos seus respectivos países.
É muito boa a ideia de legendar pela cartografia os discursos dos entrevistados sobre locais a que se referem e que hoje nós já quase não conhecemos de todo e que circunscrevem o espaço dessa intercessão da história de África com a de Portugal.
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