A minha amiga Susana Salgado fez ontem a defesa da sua tese de doutoramento. Através da análise de conteúdo chegou à seguinte conclusão: "Os media, no caso das eleições presidenciais portuguesas de 2006, e em especial o jornal "Expresso", sendo seguido pelos outros por mimetismo , terão contribuído para o apagamento de uma certa imagem de Cavaco Silva do fim do seu mandato como primeiro-ministro e de reconstrução de uma outra que o terá levado à vitória em 2006." Que é como quem diz: "Os media anteciparam a opinião política ao invés de se manterem na atitude de só a reflectirem". Assim sendo, o jornal "Expresso" pode gabar-se de ter conseguido eleger um Presidente da República.
A Susana provou que os media foram utilizados para dar uma imagem de fiabilidade e rigor do candidato Cavaco Silva e nela foram testadas estratégias de comunicação que resultaram numa evolução da imagem do candidato ao longo do tempo, criando uma ideia de consonância entre media e público.
Os arguentes contrapuseram do seguinte modo: 1. A Profª Cristina Pontes lamentou a ausência de uma análise mais aprofundada sobre a figura do Presidente da República na sociedade portuguesa, bem como a ausência de comentários ao conceito de carisma tal como fora desenvolvido por Max Weber; 2. O Prof. José Rebelo relevou a falta de leituras que considerava fundamentais na área da génese da narrativa mediática e sobre o modo de produção e recepção dos novo media. Criticou ainda os estudos que privilegiam a análise quantitativa e que consideram a quantidade como o critério mais relevante para definir a importância, e a sobrevalorização do dito sobre o não dito. O Prof. disse ainda que teria gostado que a candidata tivesse desenvolvido o tema do posto e do pressuposto como Oswald Ducrot o enunciou e concluiu que esta tese não explica porque começou o candidato Cavaco Silva em pré-campanha com sondagens da ordem dos 65% a 70% tendo depois obtido cerca de uns regulares 51%, ou porque razão o segundo candidato com uma exposição mais intensa nos media, Mário Soares, teria afinal obtido um terceiro lugar, atrás do candidato Manuel Alegre. Quis também o Prof. relembrar as muitas campanhas que no mundo recorrem à utilização massiva dos media (a campanha pelo "sim" ao referendo em França, que perdeu; a campanha do PP em Espanha que perdeu para o PSOE) e que tiveram efeitos contrários ao esperado, numa crescente relativização dos Mass Media tradicionais; 3. O Prof. João Pissarra reclamou pela necessidade que sentiu de dever ter sido mais aprofundada a questão das vantagens e necessidades de uma campanha negativa, segundo os critérios do próprio Marketing político, questionando os critérios de avaliação da informação escolhidos pela candidata.
A todas as críticas a Susana respondeu que o seu trabalho dizia respeito a um determinado tempo e assentava sobretudo na análise de informação através do método de "análise de conteúdo". Acrescentou que os dados a que chegara foram exactos e que as conclusões seguiam desses dados. O seu trabalho não era de reflexão teórica pois não fora essa a perspectiva adoptada nem o objectivo inicialmente proposto. Citando de memória uma parte da intervenção do seu orientador, o Prof. Villaverde Cabral, na melhor defesa de um candidato que ouvi até hoje:"A Susana, com a cautela de um lince, tratou a política segundo o método de análise que a ela mais lhe garantia distanciamento e a certeza de neutralidade, tal como a ciência política o tem vindo a privilegiar desde 1915."
A tese há-de sair em livro e depois haverá muitas reflexões que com certeza ela levantará. Ontem foi apenas o princípio desse trabalho em curso. Eu gostei do confronto de argumentos e, como teórica, procurei posicionar-me entre o método de análise adoptado pela Susana, que não domino, e as críticas dos arguentes sobre questões que, de certa forma, conheço melhor.
As questões que ficaram serão: estavam em confronto duas formas de fazer ciência ou não? Estarão os pressupostos teóricos de enquadramento dos media a mudar ou, pelo contrário a manter o papel tradicional de orientação de efeitos, tal como a Susana quis provar?
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Parabéns Susana, estes trabalhos de análise da política em Portugal, que noutros países são moeda corrente, são fundamentais para que haja dados sobre os quais reflectir. Senão passamos a falar de cor de assuntos sobre os quais não temos informação quantitativa, apenas ideias vagas.
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