Jakob é dado a estados de espírito. Sabe-se orgulhoso, não quer pedir ajuda. Da sua educação espera que lhe traga a beleza da lealdade e da dependência. As mesmas qualidades que viu manifestarem-se no mordomo da família que se arrojou aos pés da sua mãe a pedir-lhe clemência por um erro doméstico que lhe iria custar o emprego. Jakob Von Guten vai contar a dois colegas de escola o sucedido, sublinhando o momento sublime da cena do perdão da patroa. Os dois rapazinhos, dois pequenos republicanos, ficaram horrorizados com esse acto que entenderam ser de uma tirania patronal e de classe, camuflada sobre o manto das palavras: misericórdia pessoal.
Os colegas com quem partilhara a história deixam de falar a Jakob, repugnados pelo acontecimento que este vivera de forma estética sem questionar o estado social das coisas. E Jakob aprende para que direcção se encaminha a história: “Assim é: as atitudes aristocratas já não são toleradas. Já não há aristocratas, nem homens nem mulheres, que possam livremente fazer o que queiram.” Mas será que esse espírito do tempo está a perturbar a vida de Jakob? Tornar-se-á um reactivo aos novos ideias da sociedade? Ou juntar-se-á às massas nesse dealbar de um tempo social e político novo?
Nem uma coisa nem outra; a nossa introspectiva personagem Jakobiana diz-nos: “Aceito o tempo como ele é, e tenho apenas o cuidado de fazer as minhas observações em silêncio.” p. 70
Mas às vezes não é verdade que Jakob faça as suas observações em silêncio. Ele não utiliza apenas o seu diário para escrever sobre os mestres, os directores, os camaradas e sobre si próprio durante a estada no Instituto Benjamenta; estada que coincidirá com o percurso já perto do fim de uma vida desse círculo, e em tudo coincidente com o fim do próprio Instituto. Não. Ele provoca frequentemente o taciturno e aplicado Kraus, o aluno contável do instituto para todo o serviço que envolva responsabilidade e obstinação: provoca-o com as imagens por ele observadas ou que lhe passam pela cabeça. Ele provoca o director do Instituto, Herr Benjamenta, com o seu comportamento ora absolutamente controlado das suas emoções, ora em confissões francas sobre os seus desejos. Ele terá provocado a Fraulein Benjamenta com a sua civilidade, pois esta fá-lo única testemunha da sua verdadeira existência por detrás da postura da mestra rigorosa e exigente, fá-lo um ouvinte e assistente de uma dor profunda.
E quais eram os valores que o Instituto transmitia aos seus alunos e que levou Jakob a querer matricular-se neste estabelecimento de ensino em especial? Ele responde-nos com o traço que mais carecteriza a titude desenvolvida nos alunos da escola: “Uma coisa sei com certeza: esperamos! É este o nosso valor. Sim, esperamos, mantemo-nos alerta na vida, sobre esta superfície a que chamam mundo, sobre o mar com as suas tormentas.” p. 92
Enquanto esperam por uma colocação, por um emprego ao serviço de um cavalheiro ou de uma casa, o que lhes é leccionado nesta escola? Pouca coisa. Levam uma vida letárgica, com longas horas de ócio. As aulas concentradas de manhã, umas teóricas outra práticas, sendo que em todas a actividade privilegiada é a de desenvolver a capacidade de aprender o que quer que seja de cor, por isso se ensinam poucas coisas. O lema da escola é: “Pouco mas bem”. p. 63
Nas aulas práticas ensinam-se comportamentos de cortesia social, nas teóricas aprendem-se as regras, a obedecer às leis e a aceitar as restrições que uma futura vida de servente exigirá.
Mas.. e para Jakob, o indivíduo que se sente acima desta atitude? O que ganha ele com este amesquinhar da natureza singular que o Instituo parece querer fazer impor aos seus alunos, quebrando-lhes o orgulho? Este rapaz que descreve o mundo e a si próprio como poucos, o que espera ganhar com esta educação restrita e empobrecida de conteúdos?
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