quinta-feira, março 27, 2008

Individual 2

Jakob Von Guten inscreve-se no Instituto Benjamenta, propriedade dos irmãos com o mesmo apelido: o senhor director Benjamenta e a Fräulein Lisa Benjamenta, mestra na escola.

O rapaz não é rico, mas podia ter vivido placidamente como se deveras o fosse, por reflexo em si de uma situação desafogada economicamente dos seus pais, ainda que não tão extensiva que desse garantia de segurança financeira ao futuro da sua prole, no caso de esta ter resolvido viver de rendimentos familiares. Guten não o faz. Pega no dinheiro necessário para o pagamento das propinas e dirige-se ao Instituo Benjamenta para se educar a si próprio num registo ao rés-do-chão do espírito social.
Guten, tu não estás aí para aprender a ser um líder, um patrão, um homem de sucesso na escala social burguesa, mas um criado? E assim, aprendendo o que terás que interiorizar para cumprires com perfeição o teu mister, que te compelirá para o apagamento dos teus traços mais alcandorados à vaidade, à empáfia ou à imodéstia, alcançarás um conhecimento real sobre ti. É o que pensas, Jakob?

Eu considero que esta inscrição de Jakob Von Guten no Instituto Benjamenta representa o método que a personagem de Walser encontra para cumprir o desígnio socrático: “Conhece-te a ti mesmo.” Ele vai à procura desse objectivo de vida.

Mas o conhecimento de nós próprios não é coisa que se possa iniciar ou retomar ou empreender de ânimo leve, e jamais de uma vez para sempre é dado e adquirido o que dizemos conhecer de nós. Não o era em Atenas do século V. aC, não o era na primeira década de vinte. E ainda os tempos estavam oscilantemente serenos no palco político internacional nesse ano de 1905; pressupondo que Guten se estará inscrito no Instituto Benjamenta no ano em que o seu autor editou o livro, façamos esta simpatia literária.

O rapaz oscila entre o desejo de servir outrem, como meio de aprendizagem, quem sabe, de poder vir finalmente a conhecer-se relativamente ao que é mais próprio da sua natureza, realizando o seu próprio percurso de iniciação ao auto-conhecimento assente em modelos de paciência e de anulação da vontade personalizada, e esse outro desejo ser rico e de se libertar definitivamente dessa tarefa em que se inscreveu e que às vezes o faz tremer de medo e de asco perante a hipótese de vir a ter um futuro irrisório, servindo medíocres senhores, que lhe provocariam asco e tudo isso pela sua opção tomada num dia em que estava consciente do seu objectivo de vida.
O rapaz é um enigma para ele próprio, como nos diz. É uma coisa e deseja outra, tem a outra e quer ser aquela, não tem nada e não deseja nada, não sabe o que tem e o que deseja, sabe e quer o que tem e o que é. Por dias. E não, não é coisa para ser explicada pelo spleen de Monsieur Baudelaire. Então o que é?
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Ouvi Amin Maalouf a ser entrevistado no programa "Sociedade das Nações" e pensei: - Sempre há intelectuais de grande ingenuidade argumentativa...
Ora ainda bem, no meio do realismo pragmático que pulula, alguém nos faz sorrir. Sem paternalismo no juízo. Não sei porque senti necessidade de acrescentar isto.

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