Ontem à noite vinha a ouvir parte da intervenção de Manuela Ferreira Leite no rádio enquanto circulava a caminho de casa. A dada altura perguntam-lhe qual a razão que encontra para a súbita tomada de decisão de renúncia de Filipe Menezes, a que a candidata a líder do PSD responde pensar ter sido pelo concerto das vozes críticas e muito extensivas que surgiram na imprensa e que tiveram eco generalizado sobre o caso da jornalista contratada pela RTP.
Eu penso que os media portugueses fizeram muito bem em insistir e dar eco às vozes negativas que denunciaram a estratégia de Rui Gomes da Silva, mas não deixo de me perguntar até que ponto o mesmo caso, com outra figura, noutra profissão, teria exactamente a mesma unanimidade opinativa apesar de toda a razão civilizacional e profissional que lhe assistisse. Isto é, até que ponto estes casos com jornalistas não se tratam de toques a rebate corporativos como esses mesmos jornalistas gostam de adjectivar todas as outras classes sociais quando estas se reúnem para defender os seus membros de ataques infundados, mal explicados e ainda menos justificados numa sociedade democrática. Foi um pensamento que me ocorreu.
Manuela Ferreira Leite mostrou-se, ali, com um discurso distendido sobre a importância da crítica em democracia e sobre a inevitabilidade de ela ocorrer sistematicamente na análise que se faz de qualquer líder. Pergunto-me quando é que passará a mostrar sinais de inapaciência e de saturação para com os críticos que não tardarão a fazer ouvir a sua voz, e quando começará a pensar que discussão e apresentação de provas e de factos perante o público é sinónimo de ingovernabilidade.
É o problema da maior parte dos políticos portugueses e de quem os defende, sejam de que partido for, a saber, a sua deficiente preparação para o exercício, muitas vezes psicologicamente frustrante no que toca a recompensas imediatas ou pondo em causa uma ideia cheia de si, da democracia. O que me parece é que gostam de vestir a roupa de políticos rigorosos a esconder os reais trejeitos de autoritarismo que os fascina no exercício do poder. Como se não houvesse autoridade sem esses rituais exarcerbados do indivíduo sobranceiro.
Não compreendo que em democracia se defenda a atitude política de ministros tais como Maria de Lurdes Rodrigues e de Correia de Campos, ou mesmo de José Sócrates. Não entendo a defesa que fazem das suas políticas como se estivessem em guerra com um inimigo.
Há quem defenda que são eles os políticos rigorosos, os que não têm medo das reacções de classe, os que são reformadores por excelência, e eu vejo ministros que pactuaram com discursos de fragmentação da identidade das classes profissionais e da opinião pública a que se dirigiam, que manipularam dados e informações, que retocaram a política ao gosto da sua ideia mal explicada e que levanta dúvidas quanto à sua legitimidade, de engenharia social, sem atenderem nas razões dos que se lhes opõem, sem desfazerem o rito de desdém que se lhes cozeu à cara, sem descerem do seu lugar de programadores e se tornarem governantes numa República de direito. Se políticos como eles vierem a ter medo de assumirem cargos por causa de se incomodarem com a reacção pública, então mais vale que fiquem no aconchego dos seus gabinetes privados, não acho que o país democrático fique a precisar deles para nada.
Nota: Por que razão não se insiste mais na notícia de que os jovens portugueses no período dos 25-35 anos são dos mais bem qualificados da Europa? O que aliás faz pensar como é dúbia a relação Formação=qualificação=emprego =economia vitalizada.
Porque razão a senhora Ministra da Educação nos diz que este governo não navega à procura do facilitismo, quando entrega os certificados aos cursos EFA? Quererá enganar a quem? Com o devido respeito por todos os adultos que procuram desse meio certificar os conhecimentos profissionais (e não académicos) que adquiriram ao longo da vida.
Porque razão nos diz a mesma governante que temos dos melhores alunos da Europa no sétimo ano de escolaridade, juntamente com a maior taxa de reprovações? Será que é um defeito dos professores que os reprovam de acordo com critérios claros e estabelecidos pelos Ministério, ou é um defeito de um sistema de educação unificado? E quanto às reprovações no segundo ano do ensino básico por os alunos não terem adquirido as competências básicas de leitura... saberá a senhora ministra que essas competências continuam a não estar adquiridas mesmo que eles passem e comecem a encher os cursos CEF como acontece agora, quando querem alcançar certificados do 9 e 12 ano? Já nem falo sobre o que disse da avaliação dos professores no passado.
terça-feira, abril 22, 2008
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