Clementine queria que o marido declinasse o convinte para ser líder do partido. Argumentava, recordou a sua filha Mary, que "ele era a voz de toda a nação, independente dos partidos", e que ao aceitar a "nomeação, ofenderia grande parte da opinião pública". p.495
Clementine, que tinha interpretado sempre correctamente o carácter de Churchill e fez sempre uma leitura muito clara das condições históricas dos sucessivos períodos políticos que partilhou com o seu marido, sabia porque razão Churchill poderia perder as eleições no pós-guerra.
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"Mountbatten, que tinha acabado de estar na Índia com as tropas britânicas que já tinham votado nas eleições, escreveria mais tarde:"Era uma sensação estranha e melancólica estar ali a falar de planos com um homem que parecia tão confiante de que eles se realizariam, enquanto eu tinha a certeza de que ele teria perdido o seu lugar dentro de 24 horas." p. 620
Mas porque é que Mountbatten tinha tanta certeza? Pela leitura do resultado das eleições junto das tropas britânicas? Mas se Churchill tinha feito uma boa condução do destino da Grã-Bretanha durante a Segunda Guerra, porque veio a perder? Ou seria a ideologia conservadora a perder, e o seu líder por arrasto, como previra Clementine? Mas então porque isso acontecera? Churchill governara "quase como um ditador" (p.499) uma administração em Coligação, com ministros provenientes de várias facções. Era aclamado como herói pela nação e o seu registo de popularidade era muito alto, mas perde as eleições. Porquê?
As explicações que são avançadas pelo autor da biografia são poucas. O seu combate ideológico centrado na ideia de perigo do totalitarismo e num registo discursivo apocalíptico em nome do socialismo terá sido excessivo no que às criticas aos líderes trabalhistas disse respeito, e não terá sido compreendido pelos eleitores trabalhistas que não entendiam como se podia comparar a situação social do socialismo inglês com a prática na Rússia. Para mais, como a sua filha Sarah lhe disse, aquele socialismo em tempos de guerra contribuíra decisivamente para o sentido de coesão e partilha social dos recursos de forma supra ideológica e supra divisão social ou por riqueza. Acrescente-se ainda a sua tardia tomada de decisão em defesa da criação de um Serviço Nacional de Saúde, da construção de casas sociais e da criação de um Sistema Nacional de Seguros, no pós-guerra, tudo isto bandeiras ideológicas tradicionais dos trabalhistas, e talvez compreendamos os motivos de uma derrota.
Mas o que importa para a democracia mundial a derrota nas primeiras eleições pós Segunda Grande Guerra? Estas palavras, ditas por um derrotado em agonia: "Eles têm todo o direito de votar como lhes apeteça. Isto é democracia. É por isto que temos estado a combater."
Por mim, será por estas palavras, ditas e reditas, sentidas e conscientes, que vale a pena citar Churchill milhares de vezes, quando se quiser falar de cidadania e intervenção democrática genuína.
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