Na realidade o que eu sou capaz de dizer sem uma análise criteriosa da fonte, ou sobre a análise crítica que está na origem da formação da crença que demonstro, tem vindo a começar a mostrar-se-me como factor de obscurecimento de mim para mim própria.
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Vem esta conversa a propósito de uma informação que me fez passar num instante da atenção distraída que estava a dedicar uma noite destas ao programa do último Daily Show de Jon Stuart exibido na televisão portuguesa, a um pico de atenção. Brincava-se com as notícias e as imagens recolhidas aquando das reacções à passagem da tocha olímpica em França por parte dos defensores dos direitos do povo tibetano, sobretudo ironizava-se com o facto do atleta ter entrado dentro de um autocarro rodeado de seguranças e com a dita tocha… apagada!
Vem esta conversa a propósito de uma informação que me fez passar num instante da atenção distraída que estava a dedicar uma noite destas ao programa do último Daily Show de Jon Stuart exibido na televisão portuguesa, a um pico de atenção. Brincava-se com as notícias e as imagens recolhidas aquando das reacções à passagem da tocha olímpica em França por parte dos defensores dos direitos do povo tibetano, sobretudo ironizava-se com o facto do atleta ter entrado dentro de um autocarro rodeado de seguranças e com a dita tocha… apagada!
A dada altura Stuart galhofa ainda mais e declara que realmente é muito preocupante em termos civilizacionais andar a investir contra um ritual que tem como patrono, veja-se bem, esse campeão da humanidade, e líder político que propiciou a união pacífica entre os povos, e que se dá pelo nome de Hitler.
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Ora eu, que tomei o símbolo pelo seu valor clássico e assumi, erradamente, a marcha por estafetas do transporte da tocha como algo que o comité olímpico contemporâneo teria recuperado da tradição, fiquei em desequilíbrio argumentativo. Afinal tinha invectivado as resistências tibetanas por escolherem reagir contra um símbolo de pacificação entre os povos, quando este era uma invenção moderna de um propagandista mor da ideologia nazi. Realmente a estética pensada por Carl Diem, fiquei agora a saber, servia propósitos de divulgação do ideário estético e ideológico totalitário. Espavento!
Ora eu, que tomei o símbolo pelo seu valor clássico e assumi, erradamente, a marcha por estafetas do transporte da tocha como algo que o comité olímpico contemporâneo teria recuperado da tradição, fiquei em desequilíbrio argumentativo. Afinal tinha invectivado as resistências tibetanas por escolherem reagir contra um símbolo de pacificação entre os povos, quando este era uma invenção moderna de um propagandista mor da ideologia nazi. Realmente a estética pensada por Carl Diem, fiquei agora a saber, servia propósitos de divulgação do ideário estético e ideológico totalitário. Espavento!
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Depois pensei que sendo certo que a origem histórica da cerimónia do transporte da tocha não é politica e eticamente correcta, também não deixou de se transformar num símbolo ético universal. Quer-me parecer que é como se a chama pudesse soerguer-se dos interesses privados de um regime e estabelecer uma ideia para além das intenções propagandísticas iniciais desse mesmo terrível estado, um pouco à semelhança daquela inesperada amizade entre iguais que se respeitam para além dos interesses políticos, como a ligação de Owens e Long. E essa transcendência das circunstâncias fá-lo, ao símbolo, uma representação da humanidade, e reitero o que escrevi antes: pode servir de bandeira a questionáveis conveniências ideológicas, mas também as supera, e na conta final parece-me que qualquer resistência social contra ditaduras ou governos autoritários ganha mais em deixar acesa aquela chama.
Mal explicada a analogia, mas avanço para ela: para mim é como a questão de não querendo verdadeiramente importar-me com a sobrevivência dos actuais partidos políticos portugueses, estando pouco interessada em quem vai ganhar as próximas eleições, e destacando apenas nos partidos, com consideração, as pessoas ou as ideias que avalio como excelentes no meu quadro interpretativo desta experiência que é a minha vida em sociedade, não poder deixar de os pensar como instrumentos que numa democracia são mais um factor de organização e de serviço à pátria do que meios para a auto-satisfação de egos. Enfim.
Depois pensei que sendo certo que a origem histórica da cerimónia do transporte da tocha não é politica e eticamente correcta, também não deixou de se transformar num símbolo ético universal. Quer-me parecer que é como se a chama pudesse soerguer-se dos interesses privados de um regime e estabelecer uma ideia para além das intenções propagandísticas iniciais desse mesmo terrível estado, um pouco à semelhança daquela inesperada amizade entre iguais que se respeitam para além dos interesses políticos, como a ligação de Owens e Long. E essa transcendência das circunstâncias fá-lo, ao símbolo, uma representação da humanidade, e reitero o que escrevi antes: pode servir de bandeira a questionáveis conveniências ideológicas, mas também as supera, e na conta final parece-me que qualquer resistência social contra ditaduras ou governos autoritários ganha mais em deixar acesa aquela chama.
Mal explicada a analogia, mas avanço para ela: para mim é como a questão de não querendo verdadeiramente importar-me com a sobrevivência dos actuais partidos políticos portugueses, estando pouco interessada em quem vai ganhar as próximas eleições, e destacando apenas nos partidos, com consideração, as pessoas ou as ideias que avalio como excelentes no meu quadro interpretativo desta experiência que é a minha vida em sociedade, não poder deixar de os pensar como instrumentos que numa democracia são mais um factor de organização e de serviço à pátria do que meios para a auto-satisfação de egos. Enfim.
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E no meu quadro de intrepretação só entram governantes que saibam ter do exercício do seu poder uma ideia de exclusivo e absoluto serviço público à população que os elege, e isto é mais do que fazer dizer que se está a cumprir um programa sufragado por maioria absoluta, pois é saber da realidade diariamente, corrigindo um programa não ao serviço das flutuações discursivas históricas, mas ao serviço das necessidades históricas de cada povo. Porque se o discurso político fala para o futuro, para o possível, como deve ser, a sua acção é sentida no presente, e é para este que há que ter a sensibilidade e a humildade de desejar compreender, alterando estratégias, procurando soluções.
Se governar for investir o governante de um poder iluminado, qualquer que seja a sua proveniência partidária, então despeçamo-nos da necessidade/possibilidade de aprofundar o regime democrático.
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