Mas as pessoas não podem escolher para funções da mais diversa ordem aquelas que pululam nos próprios grupos que constituem, e com quem tenham proximidade de interesses? Não é natural que assim seja?
Katz afirmou que uma pessoa influente sê-lo-á pela força de três formas de vida orientadores da sua existência: 1. Pelo que ela é (os valores que a estruturam); 2. Pelo que ela conhece; 3. Pelas relações sociais que estabelecer.
Convidada por uma amiga a ir falar do tema "Líderes de opinião política", na sua cadeira de agendamento, ouvi-a desabafar: “Até ele defende essa circunstância da vida como determinante?” Pois.
Katz afirmou que uma pessoa influente sê-lo-á pela força de três formas de vida orientadores da sua existência: 1. Pelo que ela é (os valores que a estruturam); 2. Pelo que ela conhece; 3. Pelas relações sociais que estabelecer.
Convidada por uma amiga a ir falar do tema "Líderes de opinião política", na sua cadeira de agendamento, ouvi-a desabafar: “Até ele defende essa circunstância da vida como determinante?” Pois.
Os dados têm vindo a ser coincidentes desde a década de cinquenta: as pessoas mais influentes, aquelas que são ouvidas com atenção, apresentam como características determinantes a sua capacidade de se relacionarem em rede alargada, e desse factor vir a contribuir por sua vez para a manutenção dessa propensão.
Os conhecimentos contam. Mas porque é que contam? Por aquilo que se é e sabe, competências básicas que irão depois atrair e desenvolver a capacidade de manter ou procurar relacionamentos? Ou, pelos relacionamentos que a sua posição no grupo social lhe dá à nascença, ou por meio de favores, ou por ser o protegido de alguém que por sua vez é influente, que irão depois contribuir para a formação daquilo que se é e sabe? Há distinções no processo relativo ao modo de se aceder a um ou outro benefício dos relacionamentos que se têm, embora a conclusão se mantenha inalterável: aqueles que nós conhecemos dispõem de certa forma de nós, e condicionam-nos na ordem social.
Não é propriamente uma novidade. Nem tem que ser uma constatação sobre o poder de um padrinho que dá a bênção e proporciona a cunha. Eu expliquei que a competência social é um factor de avaliação como outro qualquer, e que não se é escolhido para as funções de liderar a opinião, por exemplo, por se ser aquele que alguém conhece, mas em primeiro lugar pelo que se é.
Mas então e num grupo coeso onde membros partilham dos mesmos ideais e pactuam para se promoverem mutuamente chegada a circunstância? Há algum malefício para a sociedade que eles se escolham e se projectem para a governação dos assuntos públicos? Não. Desde que possam ser avaliados pelo público e não se escudem nas escolhas inter pares.
Antes do jogo de futebol os dois aniversariantes puderam escolher as suas equipas. Quando chegou a hora de seleccionar o menino não hesitou, preferiu só os que considerava melhores jogadores e deixou alguns dos seus amigos serem trocados por outros meninos que não conhecia de lado nenhum. Um deles, amiguinho desde a infantil, gritava: “Escolhe-me a mim! Escolhe-me a mim!”
Desapontada com a atitude do pequeno seleccionador perguntei ao rapazinho mais tarde: “Achaste que foste um bom amigo?” Ao que o rapazinho respondeu: “Mas mamã, os meninos que eu não escolhi não sabem jogar futebol e com eles íamos perder de certeza.”
Amigo é amigo, e dever de anfitrião é sagrado, retorqui liminarmente. Pois. Mas então como fica a ideia de que qualquer escolha das pessoas deverá ser feita pelas suas competências para o lugar exigível e não pela força do seu relacionamento connosco? Que valores passam para uma criança a quem ensinamos que os amigos devem ser sempre escolhidos para as brincadeiras das quais somos os líderes? E como ensiná-lo pela vida fora a distinguir o que é uma brincadeira e não é?
Não é propriamente uma novidade. Nem tem que ser uma constatação sobre o poder de um padrinho que dá a bênção e proporciona a cunha. Eu expliquei que a competência social é um factor de avaliação como outro qualquer, e que não se é escolhido para as funções de liderar a opinião, por exemplo, por se ser aquele que alguém conhece, mas em primeiro lugar pelo que se é.
Mas então e num grupo coeso onde membros partilham dos mesmos ideais e pactuam para se promoverem mutuamente chegada a circunstância? Há algum malefício para a sociedade que eles se escolham e se projectem para a governação dos assuntos públicos? Não. Desde que possam ser avaliados pelo público e não se escudem nas escolhas inter pares.
Antes do jogo de futebol os dois aniversariantes puderam escolher as suas equipas. Quando chegou a hora de seleccionar o menino não hesitou, preferiu só os que considerava melhores jogadores e deixou alguns dos seus amigos serem trocados por outros meninos que não conhecia de lado nenhum. Um deles, amiguinho desde a infantil, gritava: “Escolhe-me a mim! Escolhe-me a mim!”
Desapontada com a atitude do pequeno seleccionador perguntei ao rapazinho mais tarde: “Achaste que foste um bom amigo?” Ao que o rapazinho respondeu: “Mas mamã, os meninos que eu não escolhi não sabem jogar futebol e com eles íamos perder de certeza.”
Amigo é amigo, e dever de anfitrião é sagrado, retorqui liminarmente. Pois. Mas então como fica a ideia de que qualquer escolha das pessoas deverá ser feita pelas suas competências para o lugar exigível e não pela força do seu relacionamento connosco? Que valores passam para uma criança a quem ensinamos que os amigos devem ser sempre escolhidos para as brincadeiras das quais somos os líderes? E como ensiná-lo pela vida fora a distinguir o que é uma brincadeira e não é?
Um dia uma grande amiga disse-me que nunca me escolheria para ministra de nenhum governo que ela pudesse constituir, durante um desses exercícios de experiência pensada a que nos entregávamos. Fez bem. Eu não partilhava com ela senão uma profunda amizade, pois em comum não tinhamos nenhuma ideia política. Magoei-me profundamente. Aprendi sobre a distância entre mim e a amizade por mim. Eu tê-la-ia escolhido, claro, porque a julgava capaz de desempenhar funções competentemente, apesar de tão distinta ideologicamente. Mas o caso é que a recusa dela me fez pensar na equivocidade de uma escolha que a mim me parecia inquestionável. Um progresso no aprofundamento das ligações.
Um cargo político não é um jogo de futebol entre crianças. Talvez não. Se eu tiver a oportunidade de escolher quem irá trabalhar comigo irei fazê-lo em nome de que valores?
Como deixar isto ao critério de cada um é assunto muito complexo para uma democracia, esperando-se pela incógnita que é a formação cívica e pessoal de cada um pode-se ter belas surpresas, o melhor é que as instituições elas próprias tenham os seus princípios de selecção e que no maior número possível de lugares públicos, inclusive as chefias, só se possa aceder por concurso público com regras claras e objectivas.
Ainda que no final a igualdade de oportunidades continue a ser um caso de "Um violino no telhado".
Sem comentários:
Enviar um comentário