As eleições servem para legitimar posições ideológicas no que à política económica e social diz respeito. Se alguém concorrer com o propósito de divulgar os méritos da teoria," não há interesse público" e convencer o seu eleitorado acerca desses méritos, o que há de errado? Em princípio nada, desde que as pessoas estejam na posse não só da definição precisa do que é enunciado através desse princípio, como também possuam conhecimentos da história e dos efeitos que teorias semelhantes terão trazido para a humanidade.
Porém, pode discutir-se sim, não só as vantagens gerais dessa teoria para um maior número de pessoas, tanto quanto o benefício que esses acontecimentos históricos que de alguma forma por esse princípio, ou análogo, foram produzidos trouxeram, e a quem os trouxeram. Maior foco de discussão deve concentrar-se na questão da forma como esse princípio foi divulgado. A mensagem era clara, perceptível e inequívoca ou vinha escamoteada numa forma de discurso que predisponha o auditório para a aceitação do que normalmente jamais aceitaria em nome de um qualquer receio ou esperança não racional?
Isto é, quando as pessoas escolhem uma posição ideológica fazem-no em nome do quê ou de quem? Que meios estão ao seu serviço ou ao serviço dos que querem deter o poder através da proposição de ideias e sentimentos? Reconhecem ou não o valor da honestidade intelectual presente nessas propostas?
Não deixa de ser deveras singular na nossa cultura, que quanto mais se discute politicamente a falência do estado social, sendo que a esquerda mais pragmática por aqui tem vindo a voltear, acabe por se querer retirar da política essa questão e passe para a esfera do direito. A ânsia de procurar uma garantia mais sólida, menos contextualizada e mais contínua (ainda que um estado de direito possa solidificar até a mais ditatorial das acções) do que aquela que resulta da legitimação democrática por sufrágio universal. Veja-se o esforço da jurista Catarina Albuquerque e da sua equipa em tornarem aceitável o conceito de vítimas lesadas nos seus direitos todos os seres humanos que não vejam respeitados os seus direitos sociais, económicos e culturais. Bom, a retórica que tem acompanhado os direitos que há muito estavam reconhecidos com um estatuto superior, os direitos civis e políticos, faz-nos compreender o caminho looongo que espera quem inicie uma queixa contra o seu estado pelos seus direitos sociais e económicos, mas na verdade este protocolo é uma forma de sitiar a política. Um pouco à semelhança do que faz o discurso da democracia no mundo político.
Mas volto à questão da ideologia, ou da moda das ideias. Na década de 80 a moda discursiva passava pela defesa da tese de que era necessário aos países criarem grandes conglomerados empresariais e comerciais para competiram melhor no mercado global - mesmo o economista John Kenneth Galbraith ia nesta linha apesar das suas preocupações sociais com os assuntos públicos. Há quem anda agarradinho a esta ideia ainda hoje. E é este um falso problema político? Sim, se deixar de ter como solução o interesse da comunidade à qual diz respeito.
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p.s. Ouvi o agente responsável no caso Maddie falar sobre as suas dúvidas relativamente ao uso de um assessor de comunicação pelos pais da criança. Eu é que fiquei com dúvidas pela falta do uso de assessor de comunicação no caso da PJ. Não porque se precise de um técnico que controle a agenda dos Media a partir do interesse particular dos seus clientes, longe disso, mas por não terem ninguém que articule de forma acessível, profissional e rigorosa a mensagem de uma equipa de investigação criminal, no que há de interesse social nessa desordem da vida familiar que é o caso sempre, de horror palpável, de um qualquer desaparecimento, ademais de uma criança. Quem explica criminalmente o vazio da pequenina Madeleine? Pelo menos uma explicação convincente para as falhas e/ou incapacidades de fazerem prova.
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