Mas então qual a solução para que deixemos de nos sentir constrangidos com a memória daqueles cãozinhos de pelúcia que nos olhavam a partir do vidro de trás dos Austin Mini, por exemplo, e acenavam com a cabecita para cima e para baixo numa submissão ao movimento de deslocação do carro onde estavam postados, lá pelo fim dos anos setenta?
Ou então, há que interromper o fluxo noticioso com artigos de fundo que permaneçam no tempo mais do que o tempo de uma notícia, mesmo se nisso só haja interesse de um grupo reduzido no auditório a quem possa dirigir-se? Não.
Os media não têm que comportar-se como meios institucionais na defesa ou promoção de valores ou de acontecimentos cívicos. Eles não são promotores de crenças civilizacionais, a não ser a de que (re)produzem produtos noticiosos para consumo. Que depois neste processo se ganhe algo mais do ponto de vista da política e da sociedade para além do que o que estava previsto inicialmente, se ganhe, por exemplo, consciência da importância da liberdade de expressão, se ganhe gosto interesse pela coisa pública e se abalance para o desenvolvimento da vontade da participação política, tal já é outra coisa.
Caberá aos grupos de cidadãos reunirem-se e fazer com que os assuntos que os interessa tenham um tempo de visibilidade junto das comunidades superior ao tempo que decorre da apresentação do acontecimento noticiado. É daí a importância dos meios digitais na actualidade. Um grupo pode permanecer com o tema Darfur, por exemplo, ou Tibete, ou Ruanda, mais tempo do que o tempo que interessa aos cidadãos que por esses temas não têm senão um interesse relativo.
Mas esta existência de facto de instituições que pegam em temas e os trabalham de forma sistemática e ininterrupta, não retira a pressão sobre o cérebro de que escuta os media. Pois mesmo que se saiba que por detrás de cada acontecimento há a possibilidade de encontrar uma equipa que investiga e trabalha com precaução e saber esse tema, na verdade o nosso tempo não chega para os conhecer, ou para acompanhar pacientemente a resolução das crises ou das dificuldades apontadas, e que pode durar décadas.
No tempo das crises inopinadas quer-se, eu quero, soluções imediatas. Mas depois fico estupefacta com a "supimpa" falta de vergonha dos que vêm ligeiros aproveitar esta necessidade infantil e acreditam, ou querem fazer alguém acreditar, que sem esforço, trabalho, pesquisa e muita discussão quanto à validade da conclusão, se pode chegar à resposta certa. E quando as coisas correm mal, não é o seu método de de agir e pensar que está errado, não, a realidade é que está louca.
E não é que às vezes ela troca mesmo os passos aos sistemas? Eu gosto de gostar de Hegel, não é? Ou não?
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