E no entanto a atitude de cata-vento do ideal político contemporâneo gira sobre um ponto fixo. Reparo na estética festiva verdadeiramente imperial dos jogos olímpicos chineses (que só espantou a quem não acompanhou a linguagem do cinema chinês contemporâneo como é por exemplo o caso do belo "Milho vermelho", ou o soberbo "lanternas vermelhas" e o perfeito "adeus, minha concubina") que se cruza com um um comportamento social herdado no sentido de autoridade totalitária interiorizada com Mao, que repudiaria as representações destes jogos mas não os seus efeitos na comunicação mundial. Temos pois as máquinas imagéticas dos dois sistemas políticos mais longos e conhecidos da história da china a intrecruzarem-se para afirmação do poder da sua casa nacional, mas que concedem aos símbolos universais o seu lugar, o ponto fixo à volta do qual evoluem os actores e os acontecimentos diversos: senão veja-se a concessão à ideia de união planetária, o tomar a pomba por arquétipo colectivo de união e paz, numa cultura que por si privilegia um animal mítico como o dragão.
Quer isto dizer que todos os líderes do mundo sabem já de cor a cartilha das declarações universais e dos convenções internacionais, porque os seus povos a isso os instigam, a questão está agora em agir sabendo que se incorre em falta grave contra o espírito dos princípios universais, aproveitando o desvario, a inércia ou a impotência geral, seguindo o modelo dos poderosos que abrem excepções às regras a cada momento do seu exclusivo interesse particular. E o que é mais tenebroso é que muitas das vezes são as suas populações que lhes dão licença para o fazerem. Ninguém disse que a democracia é perfeita como sistema de governação. Ninguém o pode dizer. Mas menos que isto é que não, também, de todo.
Mas como melhorar o sistema político democrático?
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