Alguns analistas fazem coro com alguns políticos e dizem, como o presidente Lula da Silva, que é a hora da política (subentende-se sobre a economia). Ora como outros comentadores compreenderam, e com os quais eu partilho o seu ponto de vista, nunca deixou de ser a política sobre a economia, nunca. O que aconteceu foi uma política a favor de uma determinada economia. E quando hoje se ouve os discursos do Presidente Bush sobre o papel das nações na organização onde elas se encontram representadas como unidas, o que está em jogo não é uma nova visão política e económica, mas sim uma continuidade da mesma política, porque quando se ajuda a salvar interesses privados com dinheiro público, não se está só a pôr em prática o princípio de solidariedade social, no sentido em que a crise dos ricos será a tragédia dos pobres, mas a perpetuar a ideia de que a existir Estado, este deve estar ao serviço do interesse dos mais fortes, ou dos mais bem sucedidos em técnicas de negociação, que podem bem ser as que assentam na ideia que todas as pessoas da comunidade estão reféns do seu sucesso.
Ora a banca e as seguradoras que falharam (e eu própria como segurada da AIG filiada em Portugal tenho nesta interesses especiais) estão a ser de certa forma premiadas mesmo pelos seus erros de má gestão e de abuso de confiança dos dinheiros dos seus investidores, com recurso aos dinheiros públicos que estão a ser desviados de outras aplicações que poderiam até ser a médio-longo prazo, mais rentáveis: saúde, educação, justiça, infra-estruturas, etc. É claro que eu vejo que essa serve para atenuar ondas de choque mundiais, mas não deixa de ser a mesma mensagem política: não há interesses públicos que se sobrepunham aos interesses dos privados bem identificados, mesmo quando estes interesses afectaram os seus próprios recursos e lucros. A política é a mesma, e tanto os serve haver menos estado para lhes cobrar menos impostos e regular com frouxidão os seus negócios, como a presença de um Estado que no momento certo e conveniente os capitaliza. É o Estado oligárquico, disfarçado de social.
O que eu proponho: a responsabilização imediata dos envolvidos em cargos de decisões que conduziram os seus interesses, e o da sociedade, a este lugar; e a procura de novos teóricos económicos na defesa do Estado social, ainda que não tutelar, paternalista ou determinista.
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