sexta-feira, novembro 14, 2008

Ainda sobre a avaliação de professores 2

(Continuação)

5. E porque não o conseguiu?

Porque a quantidade de reformas foram todas mal geridas desde o início.

A reentrada de alunos que tinham abandonado o ensino há muitos anos, ou que tinham práticas de absentismo, através da criação de cursos tecnológicos e profissionais, é excelente, mas perguntemo-nos novamente: as estruturas (programáticas, logísticas e humanas) estavam criadas para fazer com que esta reentrada no sistema fosse séria, fundamentada e efectiva? Não. Os alunos caíram em escolas que criaram à pressa estes cursos para dar resposta à necessidade das Novas Oportunidades e cursos de formação para jovens e adultos, com pouca autonomia para contratar professores, com recursos materiais reduzidos, sem especialização. Ao mesmo tempo as Escolas estão a competir com toda uma miríade de centros de formação, de empresas e de centros de emprego que leccionam e certificam eles próprios cursos que conferem diplomas de frequência.
Ora como foi tudo feito à pressa, misturou-se o que não se tinha que misturar, desnivelou-se o ensino, e passou-se a ter uma manta de retalhos conceptual no que a uma visão do ensino diz respeito, e uma deficiente preparação dos alunos que estão a obter em ritmo acelerado os seus certificados de conclusão do 9º ano e do 12º ano.
Muitos destes alunos não sabem sequer escrever, lêem e exprimem-se com dificuldades, e querem só obter um diploma para melhorar o seu currículo (o que obviamente é um direito que a actual lei lhes garante).
Ora o que temos? Um maior número de inscritos para terminarem os níveis de escolaridade obrigatória. É verdade. Mas também o estão a fazer com currículos, formas de avaliação e em tempos lectivos que não correspondem a nada do que até agora se admitiu ser o ensino (melhoramento das competências cognitivas, meio de aquisição de informação e de raciocínio, aprendizagem de aplicação dos saberes). Inverteu-se a prova: agora é o aluno que diz à escola como e em que condições deve ser avaliado e obter o seu diploma. A degradação da imagem do ensino público tem caído a pique.

A situação é muito mais grave do que a maioria das pessoas se consegue aperceber. E aqueles alunos que ainda têm expectativas de mudar de vida tendo por base a educação, hão-de aperceber-se que as actuais formas de ensino também não irão satisfazer (depressa se apercebem que o seu certificado não lhes serve para grande coisa para além do título).

6. O que devia ter sido feito?
Ter-se dividido o ensino em ramos distintos (e com escolas e cursos distintos e bem estruturados, com opções variáveis) entre técnico-profissionais, o ensino geral clássico e cursos para adultos que só querem uma formação em certas áreas da sua vida pessoal e profissional. A selecção far-se-ia logo no sexto ano de escolaridade, ou por opção do aluno por uma ou outra das vias. Em nenhuma dessas vias se devia premiar o facilitismo nas aprendizagens, nem dar a ideia de que "Basta ir à maioria das aulas e no fim tens o certificado", como eu já ouvi dizer.

7. Que tipo de avaliação dos professores seria a correcta?

a) Aquela que se prendesse com a sua formação científica contínua (só aprendendo mais se pode ensinar melhor), o que implicaria a realização de cursos específicos ou frequência de disciplinas de cursos de pós-graduações na sua área de interesse/formação nas universidades. Avaliados e creditados por estas. Um sistema de créditos que seria gerido e utilizado pelo professor sempre que fosse necessário fazer prova da sua formação para subir de escalão.
b) Análise formativa da sua competência pedagógica (avaliada por um formador especializado na área) avaliada com uma única aula assistida no período de passagem de cada escalão.
c) Avaliação pelo Conselho executivo da Escola quanto à pontualidade e assiduidade no que às suas tarefas diz respeito.
d) Casos de manifesto incumprimento dos deveres por parte do professor deveriam ter uma resposta imediata ao nível das sanções que qualquer trabalhador está sujeito e estão previstas no Código de trabalho.

8. O que se deve evitar?

Ter expressões abjectas como as que um senhor (!) comentador escreve sobre a necessidade de "partir a espinha aos sindicatos e aos maus professores", porque, que eu saiba, os maus professores devem ser despedidos, e os sindicalistas representam os seus membros e têm direitos numa sociedade democrática. Quem "parte espinhas" são os governos totalitários, que fazem as suas leis pondo-as acima do direito e da justiça. Portugal, que eu saiba, não vive em período totalitário.

Utilizar uma comunicação estratégica contra os professores. Pois não só se desprestigia quem a enuncia, como desorganiza toda uma estrutura social ainda assente na importância de um professor na vida comunitária: depois venham dizer que os alunos andam a ser instrumentalizados pelos professores e não estão a agir exclusivamente, e de forma mentecapta é certo, através das suas acções pouco dignas com o mesmo tipo de violênciaque este governo utiliza verbalmente contra os seus professores.

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