domingo, novembro 16, 2008

Eu gosto tanto de ir a manifestações...

como de ir ao dentista. E já lá vão três por onde eu arribei a minha vontade e concentrei a minha solidariedade. Quer dizer que o abcesso da educação não deixa de alastrar. Para lástima pessoal e, acredito, sobretudo nacional.
Ontem, com a prática que vou tendo, ouvia aqui e ali as conversas dos meus colegas manifestantes, e que tinham sempre por ponto de partida o sentimento de estupefacção pela forma iníqua com que suas oposições vêm sendo entendidas por certos membros deste governo.
Uma colega, que eu não conhecia, e que se empoleirava numa base de candeeiro a meu lado, desabafou alto quando os organizadores da marcha falaram em greve: "Greve? Greve não, que sou eu sozinha que sustento a minha casa!". Olhei para ela e vi-lhe a aflição no rosto. Pois é, uma greve custa dinheiro (dois dias de greve levam mais de cem euros do vencimento) e há professores que não têm margem no seu orçamento doméstico e económico para o fazerem. É aqui, pensei eu, que devia entrar um sindicato forte e atento aos direitos dos trabalhadores. Com reservas financeiras, um sindicato podia ajudar os profissionais com mais dificuldades económicas a fazerem face a essa forma de luta cívica.
Eu não sei quantos éramos. A mim parecerem-me os suficientes para fazer passar a palavra (exceptua-se aquelas verbalizações infelizes contra a ministra na confusão emocional do momento e que não servem para nada). Todavia, o mais importante é que realmente aquele número mais que quintuplicava na sua base de representação, pois muitos colegas não estiveram presentes por desconhecimento (a convocação foi feita pessoa a pessoa, e o sistema é pouco sistemático) ou por julgarem que enfraqueciam posições fazendo duas concentrações seguidas.
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Ah, então é isso?
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Já me tinha perguntado a mim mesma que processo seria este que dava sempre a maioria ao PS quando todas as pessoas que eu conheço (pronto, também não conheço assim tanta gente!) e que votaram PS, mas mesmo todas, dizem-me que não o vão fazer nas próximas eleições.
Alberto Gonçalves explica o fenómeno no DN : "O aparente paradoxo explica-se. Se o povo percebe que o Governo roça o embaraço, supõe igualmente que não arranja melhor e, sobretudo, que não merece melhor. No fundo, e Deus sabe a que fundo desceremos, o Executivo do eng. Sócrates e as massas estabeleceram um acordo tácito e ideal, em que, para efeitos de alívio geral, o primeiro finge mandar e as segundas fingem insubordinar-se. De caminho, o país finge que existe, exercício que também não chega a convencer mas que decerto também consola."
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Eu, ingénua, procuro continuar a acreditar nas palavras de Patrick Champagne que me diz que as sondagens não passam de mais uma fórmula encontrada para fazer impor uma ideia de "opinião" pública" e não um meio de expressão dessa opinião pública.
A prova dos nove virá com as eleições, claro. Essa é a hora da verdade.

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