1. É mesmo verdade que os professores não são avaliados há mais de trinta anos como diz o primeiro-ministro?
R. Como não foram avaliados?!
R. Como não foram avaliados?!
Os professores do Secundário nas últimas duas décadas, pelo menos, tiverem que juntar aos seus cursos científicos de quatro anos, mais dois anos de uma pós-graduação em ramo educacional, sendo que o último desses dois anos era em estágio integrado, já remunerado, que lhes permitiria concorrer a um lugar na escola pública. Como entre o término do 4º ano e a entrada no 5º ano e novamente entre o 5º e o 6º havia numerus clausus, os candidatos a futuros professores foram sujeitos desde logo a uma selecção rigorosa. Depois do estágio concorriam para todo o país e em igualdade de circunstâncias com todos os professores da nação, assim procedendo anualmente até entrarem em lugar de quadro e/ou ficarem numa Escola do seu agrado. Há quem ficasse efectivo ao fim de três anos e há quem ainda hoje, e desde então, não tivesse conseguido lugar em quadro. Em qualquer destas circunstâncias os professores eram obrigados a fazer cursos de formação (realizados em universidades ou por Centros de formação) que lhes atribuíam créditos para depois poderem mudar de escalão chegada a altura, e isso após a elaboração de um relatório de actividades avaliado pelo Conselho Executivo da Escola onde se encontrassem a leccionar no período em causa.
Além de tudo o mais, o número de professores com mestrado, doutoramento e em regime de pós-doutoramento, tem vindo a aumentar na última década, havendo Escolas Secundárias que já têm mais professores doutorados do que certos cursos em Universidades Privadas. Basta ver os programas.
Os professores lutaram sempre por entrar no ensino público, até recentemente, daí que a selecção tivesse como critério as melhores classificações obtidas na licenciatura e na pós graduação em ramo educacional. A competição era muito grande, e o critério era objectivo e nacional: confiava-se na avaliação universitária e nos orientadores de estágio das escolas escolhidas. Mas isso também aparece hoje posto em causa!
Professores de outros graus de ensino tiveram também que estar sujeitos a formações exigentes, já que a concorrência foi sempre muito alta para este tipo de funções. Mas ignoro as formas de legitimação das suas carreiras.
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2. Vocês negam qualquer tipo de avaliação?
R. Isso é inconcebível numa classe profissional que faz do saber e do conhecimento a sua ferramenta de trabalho (agora querem que nós digamos que somos educadores de competências e não de conhecimentos, "pós-modernices"...).
Qualquer professor de qualquer grau de ensino sabe que a avaliação directa dos seus alunos é a primeira etapa que tem que vencer no início de cada ano lectivo. E esse respeito pela sua pessoa não é dado de forma natural ou imediata nos dias que correm. Um professor tem que conquistar os seus alunos, e também os pais ou encarregados de educação daqueles, para a sua disciplina e para o seu método de trabalho, em primeiro lugar.
É claro que ninguém nega a importância de uma avaliação, aquela que já tínhamos ou uma outra mais fiscalizada, e que conte até com os resultados da escola tendo em conta o seu contexto sócio-cultural. Não me repugna. Mais à frente até vou ter a audácia de apresentar um modelo de avaliação.
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3. Qual é o problema desta avaliação proposta?
R. Assenta na ideia, desde logo errada e perniciosa, que a divisão da carreira docente foi meritória e permitiu distinguir os professores mais avaliados e mais competentes, ainda que eles tenham exactamente as mesmas funções e procedam de maneiras exactamente semelhantes (um trabalho igual para um título desigual): professores titulares e professores não titulares.
Ora como muitos professores titulares são-no por antiguidade e/ou dedicação a cargos administrativos, acabam por não ter muitas das vezes formação científica ou pedagógica superior à do seu avaliado, mas ainda mais grave, muitos desses professores titulares vão avaliar os seus colegas de disciplinas que não são as que eles leccionam normalmente (um exemplo, entre dezenas de outros, uma professora de moral vai ser avaliada pela directora do departamento que é licenciada em economia).
Por outro lado, o tipo de avaliação implica a perpetuação eterna do professor em ano de estágio. É a minimização da sua evolução como profissional, para não falar da pessoa. Todos os dois anos, independentemente de ter as melhores classificações, ou de ser o melhor professor lá da escola, terá três aulas assistidas, terá também que preencher um conjunto de fichas de avaliação de tamanho e extensão no conteúdo a ser analisado inenarrável (em que se pede uma classificação, por exemplo, para o item "consegue criar empatia com os alunos?"!), terá que se submeter a uma auto-critica e a uma análise de funções verdadeiramente paralisante e terá ainda, como é óbvio, que fazer cursos de formação científica e pedagógica avaliados pelas entidades formadoras.
Imaginem o que era um médico, ou um advogado, ou engenheiro, passarem o resto da sua existência profissional a serem submetidos todos os anos ao mesmo tipo de avaliação que tiveram durante o estágio profissional e que fizeram quando estavam a iniciar a sua vida de trabalho. E isso para ocupar um lugar que pode nunca a vir a ser seu por muito bom que seja, porque há cotas em cada escola para os Excelentes e os Muito Bons.
É um braço de ferro a qualquer actividade autónoma na esfera do ensino.
Se isto não é o mito de Prometeu que caiu sobre a actividade dos docentes, então não sei o que é.
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4. Para que serve então esta avaliação proposta?
R. Para fazer com que os professores do quadro diminuam, pela pressão absurda que o ministério exerce sobre eles. Aqueles que podem sair para a reforma estão a fazê-lo e vão continuar. É, sempre foi, uma questão do défice misturada com a ideia de fazer baixar o número de reprovações e /ou abandono escolar.
Seria o "ovo de Colombo" deste Ministério se o tivesse conseguido.
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5. E porque não o conseguiu?
(a continuar)
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PS. Este post foi escrito hoje, quinta-feira, dia 13. Ando com problemas de publicação no blogue.
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