quinta-feira, janeiro 29, 2009

E se...


conseguíssemos fazer oposição sem desejar que o opróbrio caia sobre os nossos opositores? Se conseguíssemos fazer oposição baseados em factos e em argumentos e não em insinuações ou em mentiras forjadas para o momento?
Eu votei neste primeiro-ministro que nos governa, eu desiludi-me absolutamente com este primeiro-ministro que nos governa, eu combato em fóruns próprios o primeiro-ministro que nos governa, defendendo que muitas das suas políticas, nomeadamente na área que conheço melhor, a educação e a investigação em Portugal, são um simulacro de políticas públicas. Mas jamais considerarei a insinuação, ou a ofensa pessoal, como princípio de luta legítima em política. Este governo utilizou-a contra toda uma classe profissional. Mas eu não tenho que fazer o mesmo contra este governo. E não sei porque razão estando nós a defender uma política de educação diferente temos que passar a dar notícias sobre o Freeport, a não ser por aplicação directa da falácia do envenenamento da fonte. Mas quem não conseguir convencer outrem com a verdade, e só com esta, não merece ser escutado por ninguém.
Eu não sei se o primeiro-ministro é ou não culpado de fraude. Espero que se o for possa ser julgado e penalizado pelo seu comportamento, e que tudo se esclareça o mais depressa possível, em nome da independência de poderes. E que se o não for, possa ser julgado pelas opções discursivas e atitudes revanchistas que adoptou na condução dos negócios deste país, aplaudido por extremistas que em tempos foram defensores de ideias totalitárias e que têm em si as sementes de uma política do confronto e da discórdia, pela regra da imposição de objectivos considerados superiores.
Mas se não compreendo os que se regozijam com o que está a acontecer a Sócrates, como se isso alterasse as razões das suas causas políticas contra ele, e não fosse um problema à parte (um gravíssimo e profundo problema dele, e nosso como país e como democracia, mas um problema à parte de outras questões, como as que se dedicam só à esfera das questões da educação, por exemplo), também não compreendo o toque a rebate dos militantes do PS. É como se no país só houvesse chafaricas para defender e não existissem princípios pelos quais lutar.
Que raio! Então eu que não concordo com as políticas do primeiro-ministro, que não as sufragaria em eleições, teria, caso tivesse um cartão do partido, ver em tudo isto uma cabala para atacar o PS? Porquê? Um partido só é atacado se perder identidade ideológica e se perder a realidade do país e do mundo de vista, pois líderes, esses, hão-de haver sempre muitos. As consequências dessas lideranças é que podem ser duradouras na história. O mais importante é o PS ou a verdade dos princípios ideológicos do PS. A não ser que estes princípios se reduzam a termos que ganhar eleições e estarmos no poder seja como for, de que forma for e com quem quer que for.
Neste caso do Freeport eu não tenho crença nenhuma sobre Sócrates. Não sou polícia, nem advogada, nem juíza, nem jornalista de investigação. Espero que a verdade se apure. O meu combate é contra políticas concretas das quais eu tenho conhecimentos e contra as quais eu posso argumentar. E é também pela mudança de comportamentos na hora de fazer política: para mim, as deliberações públicas são mais do que um direito, são um dever de qualquer cidadão. É isto que eu ensino nas aulas, é isto que eu tento cumprir.

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