Manda a tradição que um investigador se mantenha afastado do objecto de observação. Se o objecto de estudo for a acção política (o comportamento comunicacional dos envolvidos nos processos de formação, tomada de decisões e recepção das mesmas, por exemplo) não é fácil fazer com que os resultados do trabalho de um investigador evitem ter influência sobre a própria realidade estudada, porque o discurso de um investigador faz oscilar o universo da acção política para o uso de determinados termos em detrimento de outros, e que é aquilo que se faz precisamente com os discursos. Ora as palavras afectam os sujeitos que as produzem, ou que as lêem, mesmo que o seu produtor prime pela equidistância entre todos os elementos de interesses ponderados na estruturada que está a analisar.
Pierre Bourdieu, para justificar o seu activismo político, saindo do gabinete da universidade para a rua, considerou que todo o impedimento que leva ao investigador a não envolver-se em interacção com o objecto estudado de forma intencional, é o equivalente a proceder à auto censura.
Eu penso que não é preciso avançar por este tipo de argumentação, porque a busca do conhecimento verdadeiro em qualquer área de investigação humana vale bem o investimento e o autocontrole de alguém toda uma vida, na exacta medida que a paixão pelo saber de qualquer pesquisador não tem que afectar o rigor na sua aplicação do método proposto como mais eficaz para se chegara conclusões verdadeiras. E na clara análise de provas devidamente publicitadas na comunidade de entendidos, primeiro, e na comunidade geral, de seguida.
No entanto, tal como nas ciências naturais, a divulgação de resultados afecta não só a comunidade que estuda a matéria ora comentada, como afecta a própria compreensão que as pessoas podem ter do objecto em causa: ora isso, no universo dos seres humanos, provoca alterações no sentido de representação que temos do objecto (do objecto enquanto conceito).
O que quer dizer que os investigadores em acção política estão a fazer política, ainda que seja correcto que os seus métodos não seja os da política mas os da ciência escolhida para analisar essa realidade.
No fundo é a clássica questão de saber se é o poder do conhecimento a contextualizar o discurso do político, ou se é o poder do político a contextualizar o discurso do cientista. O que tem a ver com o dinheiro dispendido para investigação, o modo como é utilizado, ou, em casas extremos, como o político silencia efectivamante as questões dos cientistas. Estas são as questões fáceis de responder. As outras, as dos efeitos dos sentidos/deveres implicitos, essas é que são difíceis.
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