sábado, março 07, 2009

Nem quando se faz aquilo que se tem que fazer, por obrigação, e por convicção, se fica impedido de pensar na contrariedade que essa acção provocará em alguém.
Eu admiro a assertividade de certas pessoas. Em certas mulheres, por exemplo, há sempre a ideia de uma imensa competência pela forma como fazem fluir o discurso de forma determinada. É curioso que geralmente são mulheres licenciadas em direito. Parecem-me quase sempre futuras promissoras ministras. Sem dispromor para elas.
As minhas amigas que vêm das ciências naturais, das ciências sociais e das humanidades, têm uma forma de falar e de se expor mais cheia de reticências, uma mais reflexiva forma de explicar as coisas, menos rigor na discussão sobre valores, um maior ziguezague discursivo.
Julgo que a competência das pessoas da esfera jurídica se deva à prática argumentativa que o Direito lhes dá, uma diferente competência linguística relativamente às demais, que as forma num discurso coerente, normalizado e escorreito sobre a vida política, mais próximo daquilo que é expectável ouvir-se. Aquilo que para as demais é uma vivência emocional ou reflexão teórica sobre a descrição da realidade social, para as pessoas de Direito parece uma compreensão da realidade normativa em que se vive.
Evidentemente, a assertividade surgirá em cada pessoa na sua área de saber, ou como reflexo da sua competência prática em algo, mas parecer-nos-á sempre, se em exercício da política, um arremedo de pensamento.
Quer dizer, parecem-me que as esferas do saber e da experiência por vezes são produzidas para se manterem encapsuladas. Se isto decorre de uma qualquer forma de entropia dos processos, como dizia, penso que neste sentido, Lévi-Strauss, ou se decorre de estratégia das lideranças, por inércia ou com intenção, isso não sei.

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