quarta-feira, abril 08, 2009

3. "Eu tenho uma garantia sobre si"

- dizia a personagem do banqueiro Brue ao espião Lantern. (p. 297)
E que garantia era essa? A que não ser cumprido o acordado entre ambos, Brue diria por todo o lado que Lantern era um espião que não cumpria promessas. Curioso. Mas o que acontece quando o espião é ele próprio traído por outros espiões e quando o código de honra implode em nome de valores que não sendo universais são os dos modelo dominante? Quem pode manda como lhe aprouver?
O livro de John Le Carré é como um teatro de sombras. O que acontece à nossa vista é infinitamente menos violento, tenebroso ou ignóbil do que aquilo que não é escrito mas do qual se suspeita o tempo todo. Há um passado e há um futuro de extrema violência e de extrema arbitrariedade do poder político que é questionado, mas a nós só nos é dado saber efectivamente do presente de algumas personagens que se cruzam em Hamburgo.
A Rússia e a Tetchenia, os EUA, Guantámo e o Iraque, passando por Israel no Líbano, são as forças políticas e físicas reais que mexem os cordelinhos de todas as vidas que acompanhamos neste policial: os poderes ocultos mas soberanos sobre a vida dos cidadãos europeus, turcos e russos que se encontram no livro a viver no limiar de uma existência privada com a pública.
Não há redenção para ninguém porque ninguém pode ali valer de facto a outrem que dele necessite. Faz-se o que se pode. E descobriram que os cidadãos podem de facto muito pouco contra os governos.

2 comentários:

Clube dos Pensadores disse...

Gostei do seu blogue .

Discreto e com classe.

Temas muito bem abordados.

Agradeço o destaque dado ao meu blogue .

Joaquim Jorge

Isabel Salema Morgado disse...

Imensa gentileza a sua.
Obrigada.


Atentamente,
isabel