quarta-feira, abril 08, 2009

Democracia? Ora...nem ao metro.

Meio da tarde, filho de um lado e a minha mãe do outro entrámos numa loja de bairro para comprar uns cortinados. À saída, junto da caixa, juntaram-se quatro mulheres; enquanto nós pagávamos clientes e lojistas discutiam a passagem do tempo de forma pragmática e nada filosófica.
Dizia uma senhora, "Depois da Páscoa, são as férias e logo de seguida o Natal.".As outras confirmavam. De entre elas alguém exclamou, "E já é vinte e cinco de Abril outra vez!"
Eu gosto do vinte e cinco de Abril, e disse com alegria, "Já lá vão trinta e cinco anos, não é?" O que eu fui dizer... O coro de vozes, a que a minha mãe deu reforço, começou imediatamente a enunciar todos os males do tempo, comparando-o com esse outro que insistiam em considerar um arco-íris da história da sua vida política.
Eu defendia a liberdade e as senhoras indignadas contraponham-na aos roubos, ao desemprego dos filhos e netos licenciados que só têm patrões exploradores e que não lhe pagam muitas das vezes, e trabalho, esse, só mesmo nessa "coisa" do marketing. Acrescentavam ainda a sua constante sensação de falta de segurança quando saem à rua, nos políticos ladrões, na falta de respeito pelos professores e pelos juízes, enfim, uma pouca vergonha como se nunca viu.
Eu elogiava o vinte e cinco de Abril, dizendo: "Mas a democracia precisa de nós, precisa que escolhamos melhor os líderes, que intervenhamos mais como cidadãos, que proponhamos soluções ..." -, mas aquele auditório não queria ouvir-me para nada e já começava a olhar-me como a uma ameaça, o tom começava a subir e viravam-se todas contra a mim. Eu mantinha-me firme, assim como assim o meu filho estava a ter em directo uma lição de política no intervalo do seu jogo na "playstation" que segurava com as duas mãos. Recuei discursivamente, concedi-lhes razão nas queixas, para logo que as vi mais sossegadas afirmar que nenhum ditador, nenhuma ditadura, ao dar-nos mais segurança, nos dá mais respeito por nós mesmos como pessoas. Sim, sim, era mesmo isso o que elas queriam ouvir... "Respeito!" - gritaram-me. Acrescentando - E a senhora põe este respeito na mesa? Respeito era o que se tinha no tempo de Salazar. Ai sim, é que havia respeito, porque havia trabalho e podíamos dar-nos ao respeito, sair de um patrão e ir para outro. Agora...todos nas mãos de meia-dúzia..."
Antes de virar as costas ainda disse, "Mas há que ter esperança nas novas gerações, em como conseguirão viver em democracia e em terem todos uma vida boa".
De dentro da loja gritavam-me: "Novas gerações?! Os desgraçados, como o seu filho e outros, é que as vão pagar todas." Levantei a mão em despedida e sai.
Cá fora disse para o meu filho e para a minha mãe: "A responsabilidade é nossa. Não devemos esperar por um salvador para modificar a nossa vida."
Mas depois pensei que mesmo que não esperemos por salvadores, a verdade é que eles se insinuam através da sua vontade rota de governantes ávidos e que condicionam a vida pública a uns termos que deixam o indivíduo sufocado e a sociedade desorganizada e insegura.
Assim, realmente, a democracia não passa de mais um nome de fachada de controlo do erário público como tantas outras formas de governo ao longo da história, injustas e exploradoras da vida humana.

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