"Os socialistas, sob pena de derrota, devem caminhar a favor de todas as justiças que estão por realizar. Não têm que considerar a quem servem as justiças realizadas, porque eles são desinteressados ou não serão socialistas."
Este era o mote dos jovens socialistas que se oponham à posição oficial do partido no caso Dreyfus. Os líderes do partido assobiavam para o lado, certas pessoas da base eram anti-semitas, mas havia aqueles que não concordavam com a subordinação às forças do poder que queriam controlar os danos do caso Dreyfus. Repare-se: Dreyfus, e todos os que o defendiam, tinham contra eles as figuras do Estado - todo o poder civil e militar, portanto. Zola e os seus amigos estavam a travar sozinhos uma batalha dura pela defesa de Dreyfus. Qualquer semelhança de Dreyfus com um homem que esteja no poder e possa usar os seus meios para se defender (ou para escapar à justiça) é pura demagogia.
Certamente que os detentores de cargos públicos, com poder efectivo, não têm que suportar a injustiça de forma diferente da de qualquer outro cidadão, não me venham é dizer que ele não está infinitamente mais preparado para se defender e para actuar contra os autores que cometam essa injustiça, devendo abster-se, por isso mesmo, de usar uma força de resposta desproporcionada sobre os seus adversários.
O Estado não deve estar ao serviço dos seus líderes. E sim estes ao seu serviço desde que em nome da verdade.
Michel Winock, O Século dos intelectuais, p. 39.
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