Ontem ouvi na televisão o nosso presidente falar na generosidade da oferta de quem entrega os seus livros a uma biblioteca pública, como o Prof. Adriano Moreira o fez. É verdade, é de uma grande generosidade. Para mais a uma terra que eu senti dispersa, em anomia e sem dinamismo.
Uma cidade que não fica assim tão longe do poder como nos querem fazer crer (aliás é ridículo falar em distâncias ao poder físico em Portugal). Obviamente que considero fundamental para o Norte de Portugal a criação de uma via rápida que ligue Bragança a Viana do Castelo para que a interacção entre as duas regiões do Norte se torne um facto físico. E não há dúvida que as cidades raianas parecem ficar nesse limbo identitário com os grandes interesses económicos e culturais do centro de poder, mas convenhamos que falar de obstáculos físicos difíceis de transpor em Portugal soa a falso.
Já não ia a Bragança há mais de uma década e não a senti diferente do que era então. Por diferente quero dizer que não a senti a crescer como outras cidades do país, mesmo outras cidades transmontanas. Pareceu-me encapsulada então, pareceu-me encapsulada agora. Esta percepção pode ser falsa. Mas temo que não. Pareceu-me literalmente a mesma cidade. E isto não é por si só um bom sinal. Não que esteja mal. É uma cidade harmoniosa, claro, mas não com o ritmo ou a presença física e humana que eu esperava de uma capital de Distrito. Isso não. Há ali um ritmo desfasado daquele que caracteriza uma grande urbe.
Quando me debrucei sobre as muralhas do Castelo da cidade, para olhar em volta, não tive um único momento de sobressalto pela chegado do novo. Circunscrita, silenciosa e recatada, a cidade parecia-me comportar-se como uma pessoa que mantivesse os olhos no chão enquanto falávamos com ela.
Muitos dos grupos de turistas, sobretudo espanhóis, que deambulavam por Bragança no sábado, e que quiseram visitar o Castelo, e o seu curioso e bem conservado museu militar, deparavam com a porta fechada a partir das 13:00. Pensei ao passar por eles e observar o seu desânimo:
"Pois é amigos, vocês também têm a vossa hora da sesta... mas depois reconsiderei. Então com tanta gente no desemprego, não haveria algumas almas que preferissem estar a exercer aquele trabalho de assistência ao monumento, mantendo-o aberto e disponível o maior número de horas por dia?"
É a falta de entrega dos poderes políticos a causas, que faz do acto do prof. Adriano Moreira um acto político de índole amorosa. O poder segundo John Rawls e não segundo Maquiavel, claro.
quinta-feira, junho 18, 2009
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