Hoje olhei alguém nos olhos, alguém que está magoada pela traição que uma espécie de corte lhe movera, pondo em causa toda a sua dedicação à instituição, e duvidando do seu trabalho, o qual exercera com brio e no respeito total pela legalidade.
Habitando uma espécie de Olimpo, no que a essas formas de proceder, ser e estar diz respeito, não deixei de compreender a dor desse olhar que buscava em mim a testemunha. Muda, como raramente. Muda porque avassalada pela dor de outrem que tudo fez e nada chegou, porque quem podia, de forma ínvia, não quis que chegasse. Muda porque impotente. Muda porque não sendo minha a dívida do colectivo, a assumi.Às vezes fico assim. São lampejos de desespero perante a injustiça, a iniquidade, a cobardia, a traição, o cinismo, a falta de honra, a irresponsabilidade, a mentira e a maledicência. Sei quando se aproximam esses momentos. Sei o que digo sempre, então. As fórmulas que uso para exorcizar o meu medo. Mas eu conheço também a minha força, e reconheço nesses momentos a sua natureza de ritual que serve de trampolim. E hoje, ali, olhando aquele olhar, sabendo que aquela pessoa era mais que capaz de seguir a sua vida e de fazer mais logo ali, já à frente no tempo, não deixei de saber com quantos metros se cavou até atingir aquela profundidade com que era feita a mágoa. E, de certa maneira, eu estava a assistir à dor de uma perda, física mesmo, de um estado: o de poder.
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