Sempre que o consegui, em que psicologicamente o consegui, procurei ouvir todos os candidatos a deputados.
Sempre que me obriguei, procurei ler sobre os seus programas, e, no entanto... mudo de intenção de voto a cada minuto em que penso nisso.
Não tendo motivos emocionais de adesão a nenhum dos candidatos, porque na realidade não há verdadeiramente nenhum que me faça admirar o seu imaginário político, fico apenas com a minha razão para pesar os prós e os contras da minha decisão. Ah, mas não é isso que se deseja para um cidadão? Que escolha racionalmente? Que decida qual a política que, caso ele venha a necessitar, melhor lhe assegurará a sua cidadania e a dos seus pares, independentemente da posição actual que se ocupa na sociedade, ou do seu de(interesse) pessoal? Os filósofos Rawls e Habermas, cada um propiciando um método diferente para assegurar uma escolha racional, aplaudiriam a minha ausência de entusiasmo e o meu distanciamento, como indício de idade adulta mental em corpo de idade há muito adulto. A mim entristece-me. Herdeira de visões teóricas heróicas, leitora de pensadores universais, espectadora rendida de destinos em lutas de causa, crente absoluta na energia de Scarlett O`Hara ("After all, tomorow is another day."), e respirando a custo pelas consequências do acto de Michelle Corday, não consigo encontrar quem me mereça mais que um olhar de análise na política portuguesa.
Talvez seja preferível assim. Eu não acredito que seja preferível, tenho razões para o defender, mas admito a hipótese de que uma força maior que a do discurso e da acção coladinha a uma certa ideia de realidade comum, possa exceder-se na sua afirmação e transformar a vida do indivíduo ou de uma sociedade num circo ou num espaço de terror.
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