Perdi totalmente a objectividade e a neutralidade com que devia, por razões profissionais, acompanhar os actos eleitorais. Sinto náusea quando me obrigo a pensar este sistema e em muitos destes actores e, no entanto, sei também como a minha náusea é sintoma de passividade e de pouca capacidade de participar de forma inteligente ou criativa ou empenhada. Qualquer coisa de maior do que eu. Sinto náusea, e isso de certa maneira é um escudo para a minha impotência.
Não quero, ou não posso, compreender sociologicamente o que leva alguém a admirar e a querer para este país, dando-lhe intenções de voto claras, um estilo de governança que começa na auto promoção de uma personalidade que se acha o alfa e o ómega da vida política e pública, e que, no entanto, tem o país com indicadores tão baixos quanto ao que verdadeiramente interessa: nível de vida económica, cívica e cultural.
Apetece-lhe perguntar como faz aquele dr. Phil americano às pessoas que vão ao seu programa e se acham os critérios supremos do comportamento dos outros: "Se você é assim tão superiormente inteligente, se é a mais capaz, porque tem a sua vida e a da da sua família neste nível tão desesperado de existência?" Pois é.
Se este tipo de personalidade conseguir fazer com que todas as outras se achem umas estúpidas comparadas com o grande líder, se conseguir fazer passar a ideia de que somos ingovernáveis porque incompetentes, pouco produtivos e corporativistas, e de que ele tem o saber, e o poder, para nos pôr no bom caminho, então estamos ao nível da estupidez que ataca povos do mundo inteiro e que elegem pessoas como Bush, Sarkozi ou Berlusconi, para só falar em dois ou três.
É a democracia representativa, pá. Certo, eu aceito-a e respeito-a no seu formalismo e nos seus princípios, não quero é ser imparcial e deixar de achar que às vezes, como eleitores, sempre somos muito estúpidos. Sobretudo quando os outros não são esclarecidos como eu acho que deviam ser. Pois, a arrogância intelectual é um mal que se pega.
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