sábado, novembro 28, 2009
Porque há quem não desista
Portugal está à beira da irrelevância, talvez do desaparecimento: "A nossa prioridade é dar informação e instrumentos de conhecimento aos cidadãos. Aquilo que transmite informação faz homens e mulheres livres. E uma das lacunas de Portugal - por falta de hábito, de experiência, de cultura - é não ter cidadãos livres, informados, capazes de participarem de modo independente na vida pública." António Barreto no Jornal I
sexta-feira, novembro 27, 2009
"Ópio democrático"
"As escutas permanecem no limbo judicial, os escutados remetem-se ao silêncio e o país entra na mais patética estagnação lorpa.
Agora vem o governador do Banco de Portugal e sugere que a crise orçamental obriga a uma subida de impostos. Logo o primeiro-ministro desautoriza o governador e sossega a nação garantindo que os impostos não sobem. Não satisfeito e pleno de reverência institucional, o governador recua e confirma a desautorização. Portugal está transformado no país das meias verdades e das meias mentiras, tudo coberto por uma enorme nuvem de ópio que envolve uma multidão de gatos pardos.
O país está mais do que endividado, o ‘deficit' alcança uma liberdade descontrolada, a despesa espreita com uma rigidez metálica, o desemprego prospera e o crescimento económico é o pequeno polegar da família nacional. Mas na aparência, Portugal vive no mundo optimista do dr. Pangloss onde tudo é normal e onde tudo corre de acordo com um plano perfeito. Diga-se que o país está quase falido, parado e estático no lado curvo de um espelho que tudo deforma e transforma.
No centro da comédia democrática, os portugueses exibem uma passividade chocante, talvez fruto da miséria ou do medo de um futuro desgraçado. Enquanto o primeiro-ministro passeia o optimismo voluntarista de sempre, o país cai numa letargia política em que a realidade é substituída pelos sonhos pacíficos e psicadélicos do ópio. Mas já não é o ópio dos intelectuais em busca da religião do progresso, apenas uma peculiar imobilidade associada aos movimentos mínimos da resignação.
No Portugal democrático não existe pessimismo, nem crítica, nem palavras ou actos de revolta. Quanto ao PSD, vegeta entretido a devorar as próprias mãos. Quanto à Esquerda radical, agita-se no vácuo de uma agenda social. No entanto, subsiste uma lamúria longa e lenta que cobre a terra de norte a sul. Em versão imaginada, Portugal é a bela adormecida que espera eternamente pelo beijo redentor. De tanto esperar o país atrasou-se em relação à Europa e arrisca-se a perder o ‘timing' do desenvolvimento e do progresso.
Portugal é dominado por uma interpretação escolástica da política e do estado geral da nação. Primeiro vem a ideia de que o país nunca perde no concerto internacional. Depois vem o argumento da falta de sorte que contrasta com a injusta felicidade dos outros. Depois surge finalmente a dúvida logo dissipada com a convicção de que Portugal é um país diferente dos restantes e que se rege por um conjunto alternativo de valores.
Falta a coragem para olhar uma realidade falida e decadente e afirmar que algo de errado se passa em Portugal. Esta é a responsabilidade da política, esta é também a responsabilidade dos portugueses."
Carlos Marques de Almeida in Diário Económico
Agora vem o governador do Banco de Portugal e sugere que a crise orçamental obriga a uma subida de impostos. Logo o primeiro-ministro desautoriza o governador e sossega a nação garantindo que os impostos não sobem. Não satisfeito e pleno de reverência institucional, o governador recua e confirma a desautorização. Portugal está transformado no país das meias verdades e das meias mentiras, tudo coberto por uma enorme nuvem de ópio que envolve uma multidão de gatos pardos.
O país está mais do que endividado, o ‘deficit' alcança uma liberdade descontrolada, a despesa espreita com uma rigidez metálica, o desemprego prospera e o crescimento económico é o pequeno polegar da família nacional. Mas na aparência, Portugal vive no mundo optimista do dr. Pangloss onde tudo é normal e onde tudo corre de acordo com um plano perfeito. Diga-se que o país está quase falido, parado e estático no lado curvo de um espelho que tudo deforma e transforma.
No centro da comédia democrática, os portugueses exibem uma passividade chocante, talvez fruto da miséria ou do medo de um futuro desgraçado. Enquanto o primeiro-ministro passeia o optimismo voluntarista de sempre, o país cai numa letargia política em que a realidade é substituída pelos sonhos pacíficos e psicadélicos do ópio. Mas já não é o ópio dos intelectuais em busca da religião do progresso, apenas uma peculiar imobilidade associada aos movimentos mínimos da resignação.
No Portugal democrático não existe pessimismo, nem crítica, nem palavras ou actos de revolta. Quanto ao PSD, vegeta entretido a devorar as próprias mãos. Quanto à Esquerda radical, agita-se no vácuo de uma agenda social. No entanto, subsiste uma lamúria longa e lenta que cobre a terra de norte a sul. Em versão imaginada, Portugal é a bela adormecida que espera eternamente pelo beijo redentor. De tanto esperar o país atrasou-se em relação à Europa e arrisca-se a perder o ‘timing' do desenvolvimento e do progresso.
Portugal é dominado por uma interpretação escolástica da política e do estado geral da nação. Primeiro vem a ideia de que o país nunca perde no concerto internacional. Depois vem o argumento da falta de sorte que contrasta com a injusta felicidade dos outros. Depois surge finalmente a dúvida logo dissipada com a convicção de que Portugal é um país diferente dos restantes e que se rege por um conjunto alternativo de valores.
Falta a coragem para olhar uma realidade falida e decadente e afirmar que algo de errado se passa em Portugal. Esta é a responsabilidade da política, esta é também a responsabilidade dos portugueses."
Carlos Marques de Almeida in Diário Económico
terça-feira, novembro 24, 2009
quinta-feira, novembro 19, 2009
Corrói o carácter
"A corrupção segue imperturbável. Tão nociva e viciante como o tabaco. Como ele, corrói a saúde; como ele, gera habituação. Habituação a uma 'dramaturgia democrática' em que o sexto acto, a condenação em tribunal, raramente sobe à cena."
Paulo Martins, JN
Paulo Martins, JN
quarta-feira, novembro 11, 2009
Um comportamento sectário não é sinónimo de lealdade às causas e às ideias
Fantasio as razões que podem levar uma pessoa a fazer adesão a um partido como se a uma seita religiosa se tratasse, e as que encontro não justificam o empenho de tantas pessoas que não tendo qualquer relevância no sistema partidário a não ser a que a sua imaginação lhe dá ou o seu sentido de pertença e necessidade de vinculação lhes sussurra aos ouvidos; pessoas que não são escutadas pelos seus líderes, para quem aliás não têm interesse fora da sua intervenção na difusão de propaganda durante o espaço eleitoral, comportam-se todo o ano como se tivessem que justificar tudo o que o seu partido faz, sem vacilar (sem pensar), sem ousar criticar, como cães de guarda do seu pedaço de território. Para quê? É instinto de protecção do líder do seu sector? É lealdade para com quem imaginam seu par? É o quê que faz com que tantos comentadores enveredem pelos ataques cerrados ou os elogios constantes se estes focalizarem o seu pedaço de gente sacralizado?
E entretanto discute-se o quê sobre a educação em Portugal?
"Nos últimos 40 anos, os pedagogos quase destruíram as bases do pensamento racional e os fundamentos da nossa civilização." (...)
quarta-feira, novembro 04, 2009
Este meu país... quando as coisas que parecem já o são.
Opinião - Jornal de Notícias: "Há uns anos, na cadeia de Paços de Ferreira, dizia-me o 'capo' da máfia calabresa Emílio di Giovinni, condenado em Portugal a 16 anos de prisão e extraditado depois para Itália, onde apareceu morto na cela: 'Portugal é um paraíso!'. Referia-se, não à doçura do clima, mas à das leis penais e processuais penais que, manietando os tribunais, fazem hoje de Portugal, do mesmo modo que alguns países são destinos de turismo sexual, destino privilegiado de turismo criminal.
Ora porque não haveriam os criminosos e corruptos nacionais de usufruir também de tão aprazível e condescendente clima penal? O que se vai sabendo da recente operação 'Face Oculta' dá uma ideia da quantidade de gente fina (empresários, políticos, gestores públicos…) que tem enriquecido à sombra da estranha (?) inacção de governos e AR no combate à corrupção. Todos os dias se conhecem novos braços do polvo: REN, REFER, CP, EDP, GALP, Estradas de Portugal, Carris, CTT, IDD, EMEF, Portos de Setúbal, Estaleiros de Viana, Lisnave, Portucel, autarquias… O país tresanda de alto a baixo; o problema é que uma barrela não interessa a ninguém."
Manuel António Pina, "Um país que tresanada"
Ora porque não haveriam os criminosos e corruptos nacionais de usufruir também de tão aprazível e condescendente clima penal? O que se vai sabendo da recente operação 'Face Oculta' dá uma ideia da quantidade de gente fina (empresários, políticos, gestores públicos…) que tem enriquecido à sombra da estranha (?) inacção de governos e AR no combate à corrupção. Todos os dias se conhecem novos braços do polvo: REN, REFER, CP, EDP, GALP, Estradas de Portugal, Carris, CTT, IDD, EMEF, Portos de Setúbal, Estaleiros de Viana, Lisnave, Portucel, autarquias… O país tresanda de alto a baixo; o problema é que uma barrela não interessa a ninguém."
Manuel António Pina, "Um país que tresanada"
segunda-feira, novembro 02, 2009
Como se não fosse sempre esta a mensagem do poder!
Opinião - Jornal de Notícias: "Estes silêncios que variam entre o ameaçador, o irónico e o cínico, estão a dar ao país uma mensagem clara: os agentes do Estado protegem-se uns aos outros com silêncios cúmplices sempre que um deles é apanhado com as calças na mão (ou sem elas) violando crianças da Casa Pia, roubando carris para vender na sucata, viabilizando centros comerciais em cima de reservas naturais, comprando habilitações para preencher os vazios humanísticos que a aculturação deixou em aberto ou aceitando acções não cotadas de uma qualquer obscuridade empresarial que rendem 147,5% ao ano. Lida cá fora a mensagem traduz-se na simplicidade brutal do mais interiorizado conceito em Portugal: nos grandes ninguém toca."
Mário Crespo
Mário Crespo
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