Aqui há muitos anos, uma amiga, licenciada em filosofia, candidatou-se a um concurso para a PJ. Acabou por reprovar numa prova qualquer que tinha a ver com a aptidão física. Penso ainda hoje que perderam uma boa operacional, pelo que por esta se entender o mesmo que levou a personagem de Jorge Semprun, o comissário Roger Marroux do livro "O Regresso de Netchaïev" a definir a profissão como um exercício "pelo gosto da filosofia". (...) "A filosofia em tudo isto?
Roger Marroux respondia - no começo da sua carreira, hoje já mais ninguém o interrogava a este respeito - que a questão central da filosofia é, como todos sabem, a questão da verdade. A única verdadeira questão, mesmo, que rege qualquer interrogação filosófica. Com risco de a tornar inútil, ou insignificante, pelo menos na sua forma metafísica, se se chega à conclusão de que não existe critério fundado, e ainda menos fundador, da verdade. Quando muito critérios formais de verificação.
"Portanto, e é aí que quero chegar, dizia Marroux ao seu interlocutor - ou dizia-o a si próprio, falando consigo mesmo, até que acabasse de fazer perguntas - portanto, se a verdade é de todo essencial, pode-se compreender a profissão de chui- é uma das raras em que se ocupam e se inquietam ainda com a procura da verdade, do seu fundamento. Em que se trata ainda - desconcertante expressão! - de fazer brilhar a verdade. Conhecem o texto de Aristóteles? Não, não conheciam, os seus interlocutores, em regra geral, o texto de Aristóteles que diz que estamos perante a evidência dos factos como os morcegos perante a luz do dia, cegos?"
Se eu estivesse no lugar do Ministro Alberto Costa, algo do domínio da ficção científica, e na impossibilidade de fazer apelo à figura de inconstitucionalidade com que o seu colega António Costa artilhou a greve dos juízes, reclamava a favor do argumento da imponderabilidade de uma greve de filósofos, que é o que afinal são os senhores e senhoras agentes da Polícia Judcial. Mas onde se viu alguma vez um filósofo entrar em greve? Quem busca, nesses dias em que exercem o seu direito à greve, a evidência dos factos? Os professores de filosofia?
Roger Marroux respondia - no começo da sua carreira, hoje já mais ninguém o interrogava a este respeito - que a questão central da filosofia é, como todos sabem, a questão da verdade. A única verdadeira questão, mesmo, que rege qualquer interrogação filosófica. Com risco de a tornar inútil, ou insignificante, pelo menos na sua forma metafísica, se se chega à conclusão de que não existe critério fundado, e ainda menos fundador, da verdade. Quando muito critérios formais de verificação.
"Portanto, e é aí que quero chegar, dizia Marroux ao seu interlocutor - ou dizia-o a si próprio, falando consigo mesmo, até que acabasse de fazer perguntas - portanto, se a verdade é de todo essencial, pode-se compreender a profissão de chui- é uma das raras em que se ocupam e se inquietam ainda com a procura da verdade, do seu fundamento. Em que se trata ainda - desconcertante expressão! - de fazer brilhar a verdade. Conhecem o texto de Aristóteles? Não, não conheciam, os seus interlocutores, em regra geral, o texto de Aristóteles que diz que estamos perante a evidência dos factos como os morcegos perante a luz do dia, cegos?"
Se eu estivesse no lugar do Ministro Alberto Costa, algo do domínio da ficção científica, e na impossibilidade de fazer apelo à figura de inconstitucionalidade com que o seu colega António Costa artilhou a greve dos juízes, reclamava a favor do argumento da imponderabilidade de uma greve de filósofos, que é o que afinal são os senhores e senhoras agentes da Polícia Judcial. Mas onde se viu alguma vez um filósofo entrar em greve? Quem busca, nesses dias em que exercem o seu direito à greve, a evidência dos factos? Os professores de filosofia?
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