Eugène DELACROIX - Le 28 Juillet : La Liberté guidant le people -(Charenton-Saint-Maurice, 1798 - Paris, 1863.
1989. São publicados em Portugal os cinco volumes da História da Vida Privada sob direcção de P. Ariès e G. Dubois. No IV volume, “Da Revolução Francesa à Grande Guerra”, podemos, a páginas tantas, ler o que Linn Hunt compilou acerca da Revolução no que à participação das mulheres na vida pública diz respeito:
”Como dizia Chaumette: “Desde quando se usa ver a mulher abandonar os cuidados devotos do seu lar, o berço dos seus filhos, para vir para a praça pública pôr-se na tribuna das arengas?”. As mulheres eram consideradas como a representação do privado, e a sua participação activa enquanto mulheres na praça pública era rejeitada praticamente por todos os homens”.
É em nome de uma “ordem natural” das coisas que a participação pública das mulheres nos clubes que tinham criado para se reunirem, discutindo os assuntos públicos, passa a ser proibida e os clubes são encerrados, e é em nome de uma politização extrema da vida privada por parte do Estado, que ao mesmo tempo se relega as mulheres para um espaço hiper privado dentro das suas casas. Quanto à questão de fraternidade e igualdade cívica entre os indivíduos, insígnias da Revolução, e no que a uma diferença entre os sexos dizia respeito, ficávamos falados por bem mais de um século.
Não que Edmund Burke (Reflections on the Revolution in France) tivesse razão na sua diatribe contra a Revolução, bom, não quanto às consequências que ele antevia serem catastróficas para a humanidade, que foram devidamente enquadradas como uma reacção apelando ao argumento do “perigo eminente”, como Thomas Paine (The Rights of Man) logo o verificou. Nem, ainda, quanto às profecias que fez para a Inglaterra, que dizia a salvo dessas ideias revolucionárias, desacreditando a Constituição francesa, ou até para a França (que descreveu como a causa para a “extinção da glória da Europa”, indeterminadamente imersa em conflitos intermináveis). Mas uma coisa se pode dizer da revolução de 1789, ela só se cumpriu muitas décadas depois, e entretanto milhares de seres humanos pagaram com a vida as contradições totalitárias vividas pelos homens do poder no momento. Atente-se no entusiasmo com que a bandeira é empunhada pela “Liberdade” e que anuncia “Sigam-me: Ou comigo ou a morte!”. Mas que entusiasmo pode ser aquele que calca a seus pés os corpos de indivíduos de quem nem sabemos o nome ou a vontade ou o conhecimento sobre o seu destino na história, que devia ser, em primeiro lugar, a vontade ou o conhecimento acerca do seu destino pessoal?
Victor Hugo (1802-1885). A biografia que li é de Max Gallo, numa tradução para a Europa-América, por J. Espadeiro Martins.
Victor Hugo, filho de um homem que é general do exército imperial, que combate portanto pela imposição das ideias revolucionárias e do poder francês na Europa, nas fileiras de Napoleão Bonaparte, e de uma mulher, Sophie, que renega a revolução e apoia convictamente a monarquia na pessoa de Luís XVIII, procurará toda sua vida, no largo espectro dos seus sentimentos e inteligência, obedecer à seguinte divisa:”os homens de elevado mérito devem compreender-se e estimar-se, mesmo que se oponham quanto às suas doutrinas.” (p.211). Não há um único momento da sua história pessoal, ele que assistiu às mais violentas erupções da revolução na conturbada França do início do século XIX, que não tenha presente esta ideia. Sem medo pela assunção de ideias perturbadores para a maioria, mas sem entender nunca quer a arrogância dos poderosos no mundo, quer o consequente menosprezo pela diferença de opiniões ou de acções.
”Como dizia Chaumette: “Desde quando se usa ver a mulher abandonar os cuidados devotos do seu lar, o berço dos seus filhos, para vir para a praça pública pôr-se na tribuna das arengas?”. As mulheres eram consideradas como a representação do privado, e a sua participação activa enquanto mulheres na praça pública era rejeitada praticamente por todos os homens”.
É em nome de uma “ordem natural” das coisas que a participação pública das mulheres nos clubes que tinham criado para se reunirem, discutindo os assuntos públicos, passa a ser proibida e os clubes são encerrados, e é em nome de uma politização extrema da vida privada por parte do Estado, que ao mesmo tempo se relega as mulheres para um espaço hiper privado dentro das suas casas. Quanto à questão de fraternidade e igualdade cívica entre os indivíduos, insígnias da Revolução, e no que a uma diferença entre os sexos dizia respeito, ficávamos falados por bem mais de um século.
Não que Edmund Burke (Reflections on the Revolution in France) tivesse razão na sua diatribe contra a Revolução, bom, não quanto às consequências que ele antevia serem catastróficas para a humanidade, que foram devidamente enquadradas como uma reacção apelando ao argumento do “perigo eminente”, como Thomas Paine (The Rights of Man) logo o verificou. Nem, ainda, quanto às profecias que fez para a Inglaterra, que dizia a salvo dessas ideias revolucionárias, desacreditando a Constituição francesa, ou até para a França (que descreveu como a causa para a “extinção da glória da Europa”, indeterminadamente imersa em conflitos intermináveis). Mas uma coisa se pode dizer da revolução de 1789, ela só se cumpriu muitas décadas depois, e entretanto milhares de seres humanos pagaram com a vida as contradições totalitárias vividas pelos homens do poder no momento. Atente-se no entusiasmo com que a bandeira é empunhada pela “Liberdade” e que anuncia “Sigam-me: Ou comigo ou a morte!”. Mas que entusiasmo pode ser aquele que calca a seus pés os corpos de indivíduos de quem nem sabemos o nome ou a vontade ou o conhecimento sobre o seu destino na história, que devia ser, em primeiro lugar, a vontade ou o conhecimento acerca do seu destino pessoal?
Victor Hugo (1802-1885). A biografia que li é de Max Gallo, numa tradução para a Europa-América, por J. Espadeiro Martins.
Victor Hugo, filho de um homem que é general do exército imperial, que combate portanto pela imposição das ideias revolucionárias e do poder francês na Europa, nas fileiras de Napoleão Bonaparte, e de uma mulher, Sophie, que renega a revolução e apoia convictamente a monarquia na pessoa de Luís XVIII, procurará toda sua vida, no largo espectro dos seus sentimentos e inteligência, obedecer à seguinte divisa:”os homens de elevado mérito devem compreender-se e estimar-se, mesmo que se oponham quanto às suas doutrinas.” (p.211). Não há um único momento da sua história pessoal, ele que assistiu às mais violentas erupções da revolução na conturbada França do início do século XIX, que não tenha presente esta ideia. Sem medo pela assunção de ideias perturbadores para a maioria, mas sem entender nunca quer a arrogância dos poderosos no mundo, quer o consequente menosprezo pela diferença de opiniões ou de acções.
1 comentário:
Como Burke bem previu a Rev. Francesa foi o fim da Civilização Cristã e a sua substituição por um sucedâneo de menor qualidade!
A Modernidade, com todos os erros e perigos observados por Voegelin...
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