segunda-feira, julho 10, 2006

Bombistas: investigação psicológica

Ainda a propósito do programa sobre OS BOMBISTAS DO 7/7: UMA INVESTIGAÇÃO PSICOLÓGICA e porque não consegui escrever no fim-de-semana.
A tese avançada pelos investigadores dedicados ao estudo dos comportamentos dos indivíduos que radicalizam as suas acções políticas ao ponto de se tornarem bombistas suicidas é a de que, num contexto certo, e em consequência de uma determinada dinâmica de grupo, dinâmica estudada do ponto de vista da formação de atitudes como o conformismo e a obediência, qualquer um de nós pode adoptar um comportamento socialmente extremista.
Achei o tom do documentário certo, na procura de objectivar aquele comportamento específico, retirando-lhe a componente que poderia fazer crer que indivíduos que professam uma determinada religião, ou que provêm de determinadas regiões, estão, à partida, mais previsivelmente condicionados a revelar atitudes agressivas para com os seus concidadãos, seja por falta de espírito crítico ou por estarem a sofrer de um estado qualquer de perturbação mental. Isto não acontece. O máximo denominador comum no que a condições sociais específicas diz respeito, dá-se quando se percebe que há um número maior de indivíduos que se fazem explodir, pertencentes a famílias que estão fora do seu país de origem há mais do que uma geração. Evitou-se sempre o uso, político, do termo terrorista, e sublinhou-se a necessidade de estudar estes casos fazendo uso da qualidade de empatia. Interessante fenómeno em ciência.
Recorrendo às experiências de Asch, no que à formação da atitude de conformismo diz respeito, e à experiência de Milgram, relativamente ao estudo do fenómeno da obediência, os psicólogos pareceram concluir a favor da ideia de que indivíduos em tudo com um comportamento social funcional, podem, quando em grupo e em determinadas condições específicas, adoptar atitudes que noutras circunstâncias nunca realizariam, obedecendo a ordens e procurando actuar conformemente os seus pares. Este tipo de comportamento, “O efeito de Asch” e “O efeito de Milgram”, pode ser então a explicação para qualquer acção levada a cabo por um grupo: o de bombeiros, por exemplo, quando actuam heroicamente para circunscrever um incêndio, ou o dos bombistas quando se fazem explodir matando.

Mas…a atitude de colaboração, e a atitude que resulta na procura de conformar o seu comportamento ao de outrem, para que dessa aproximação resulte a coesão do grupo, não explica por si porque é que os bombistas de Leeds não se dedicaram ao voluntariado social, por exemplo, ao invés de se matarem assassinando outros cidadãos. Também não explica que para haver realmente obediência imediata por parte de um indivíduo para com outrem, há que ter uma crença forte, ou na pessoa a quem se obedece ou na ideia que se segue, logo seria correcto que o documentário investigasse a quem obedeciam afinal os bombistas, quem era o líder do grupo, ou, na falta desse dado, que ideia era essa que os bombistas seguiam intrepidamente.
A credibilidade de quem dá a ordem, ou, no caso de faltar um líder, mas existir uma ideia que objectiva o comportamento, a credibilidade de uma ideia, é fundamental para explicar o comportamento da obediência.
A experiência de Milgram também provou que a percentagem de indivíduos obedientes num grupo baixa significativamente se a pessoa que dá as ordens não for credível. Mas isto obrigava-os a problematizar o conteúdo da crença dos indivíduos, i.e., a estudar a credibilidade junto de certas pessoas da ideologia que os orientava na sua acção e disto, das ideias, os cientistas sociais têm agora muito medo. O que é uma pena.

Sem comentários: