Salvador Dali, "Metamorfoses de Narciso",
1937.
Conheci Filomena Mónica e Sousa Tavares nas páginas do “Público”. Foi pelos artigos de opinião que escreveram durante anos neste jornal que aprendi a valorizar o pensamento, o humor e a ironia que cada um a seu jeito desenvolve.
Quando saiu a Biografia de Eça de Queirós de Filomena Mónica comprei e apreciei o livro. Quando editou o seu Bilhete de Identidade comprei e ri-me imenso com as reacções machistas de alguns leitores, eu que apreciei o estilo e a ousadia de escrever assim tão bem sobre si e sobre os seus, que me regozijei pelo mérito de uma mulher falar de sexo e de homens como as mulheres falam e se interessam e raramente têm coragem em Portugal de o dizer, sem por isso ficar a gostar mais da pessoa. Diria até que pelo contrário. Da qual aliás não tenho que gostar ou deixar de gostar.
Quando Sousa Tavares publicou o Equador, li e gostei bastante do livro, como se gosta dos livros de uma autora como Mary Renault ou de um escritor como Thomas Wolf. E eu gosto de ambos. Os livros são interessantes, lêem-se muito bem e não deixam de ser inteligentes.
Lembro-me de comentar com amigos mais críticos que tomara Portugal ter uma dúzia de Sousa Tavares a escrever livros com a qualidade deste. Que é uma literatura que cativa e que arrasta para a leitura os que andam em transportes públicos, como nos países que demonstram maor índice de leitura, pela sedução da história e da escrita que não exige excesso de concentração mas um interesse ou uma curiosidade que prende suficientemente ao livro.
Eu li o livro de uma assentada. Diverti-me e aprendi umas coisas, sem por isso ficar a gostar mais da pessoa que o escreveu. Da qual aliás não tenho que gostar ou deixar de gostar.
Mas, dito isto, os autores conseguiram surpreender-me pela negativa este fim-de-semana. Filomena Mónica no programa da RTP 2, “Câmara Clara”, na sexta-feira à noite, e Sousa Tavares no seu artigo de opinião semanal no Expresso.
A primeira porque fala com algum espírito sobre os portugueses, mas, vimos a descobrir, serem os portugueses, afinal, aqueles portugueses que com a senhora se cruzam nos corredores da academia ou nas ruas por onde circula, já que ficamos a saber que detesta sair de casa e não vai ao Porto há que séculos porque fica muito longe! Que portugueses conhece Filomena Mónica, então? Afinal, que universo de amostra tem a autora para vir a perorar tão absolutamente sobre o carácter português?
Sousa Tavares a propósito de uma história de um plágio que não o é ou nunca o foi ou é-o de uma forma explicável, sei lá, atenta contra a blogoesfera, com o direito que lhe assiste, claro, começando por dizer que nada conhece sobre ela, nem tem interesse em conhecer, mas sem que tal desconhecimento o impeça de ir desfiando um rosário de lugares comuns sobre o meio e sobre as pessoas. Com certeza que sabe este jornalista o que diziam os escritores e outros intelectuais portugueses quando se começaram a editar jornais em Portugal? Nem um deles queria escrever para tão desprestigiado e malfadado meio, ao contrário do que se passava por exemplo em Inglaterra. E isso até ao século XIX. E no entanto hoje parece ser o meio por excelência que separa os ignaros escribas da nação dos excelsos e bravos moços do pensamento e da palavra pública.
Sousa Tavares a propósito de uma história de um plágio que não o é ou nunca o foi ou é-o de uma forma explicável, sei lá, atenta contra a blogoesfera, com o direito que lhe assiste, claro, começando por dizer que nada conhece sobre ela, nem tem interesse em conhecer, mas sem que tal desconhecimento o impeça de ir desfiando um rosário de lugares comuns sobre o meio e sobre as pessoas. Com certeza que sabe este jornalista o que diziam os escritores e outros intelectuais portugueses quando se começaram a editar jornais em Portugal? Nem um deles queria escrever para tão desprestigiado e malfadado meio, ao contrário do que se passava por exemplo em Inglaterra. E isso até ao século XIX. E no entanto hoje parece ser o meio por excelência que separa os ignaros escribas da nação dos excelsos e bravos moços do pensamento e da palavra pública.
Afinal, que universo de amostra tem o autor para vir perorar tão absolutamente sobre o carácter da blogosfera?
3 comentários:
Acho que o meu caro amigo tocou no ponto essencial, Press is dying, justamente porque os seus escribas entraram em rotinas, julgam ter Portugal conhecido de ginjeira e não toleram que exista um outro meio onde se está a revelar bastante talento, e uma forma mais incisiva de dizer, descomprometida com os interesses do patrão do jornal, que por seu turno é um escravo de um grupo financeiro qualquer.
Nâo há jornais idependentes e a censura começa a crescer por toda parte.
Para ser claro, com um exemplo - a Opus Dei controla com a sua mãozinha distante e discreta o novo jornal O Sol e o festival RockinRio.(O BPI tem ã sua frente um numerário da OPus)
Força no seu blog.
Lumen veritas splendet
Locomotiva
Obrigada.
Isabel
Isabel,
peço desculpa de lhe ter trocado o género.
Continue com a sua inteligência e fairness,
Havemos de chegar outra vez ao mar!
(da lucidez)
Locomotiva
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