Aceitará o meu leitor Marco Aurélio que eu argumente num sentido ligeiramente diferente relativamente à questão EUA/Coreia do Norte?
Ontem estive a ver o programa "60 minutos" que em Portugal passa na Sic Notícias. Parte do programa era a apresentação de uma entrevista ao jornalista Bob Woodward, na qual ele comentava as descrições e opiniões expressas no seu livro "State of Denial". Com um ar sóbrio e procurando fundamentar as suas conclusões, descrevendo situações, diálogos, relatando mesmo estados de espírito, o jornalista reconstitui as acções que levaram, no pós 11 de Setembro, à calamitosa decisão de invadir o Iraque por parte dos Estados Unidos da América.
Ficamos a saber como o Vice-presidente Dick Cheney pressionou Bush até à exaustão, e como este se deixou convencer, defendendo-se com a ideia de que a intervenção dos EUA (leia-se a sua intervenção pessoal) relevava de um designío divino de imposição de paz no mundo. É assustador. Tanto pelos motivos que esconde para justificar a legitimidade da sua escolha, sendo que estes não são passíveis de ser fiscalizados ou possam ser comentados, porque são da esfera da crença pessoal, não partilhável, o que torna o caso ainda mais assustador, mas sobretudo pelos motivos que evocou para defender essa intervenção. E estes são passíveis de ser fiscalizados. São mentiras. São factos que podem ser apresentados para contrapor às suas posições.
Mas, ao contrário de muitos líderes mundiais, Bush vive numa democracia dinâmica, com uma imprensa que está a acordar da sua vertigem patrioteira e a voltar a cumprir o seu papel que é o de informar e de publicar opiniões diferentes sobre o mesmo assunto para permitir aos leitores um maior leque de influências. O mesmo não se pode dizer de outras partes do mundo.
Por outro lado, o mal da administração Bush no Iraque (e dos milhares de iraquinanos mortos e feridos em consequência dessa intervenção militar) é o bem das Nações Unidas que vai reforçando nos últimos meses o seu papel como organização orientada, sobretudo, para a manutenção do estado de Paz no mundo. Sem o desaire do Iraque, talvez o Irão e a Coreia do Norte não tivessem sentido que era oportuno iniciarem ou desenvolverem os seus programas nucleares, talvez, mas também não teríamos os Estados Unidos tão afinados em prosseguirem esforços de resolução de conflitos por via diplomática em colaboração com a China ou com o Líbano, como por exemplo temos vindo a acontecer nos últimos tempos. Deixou o presidente americano de se sentir o "iluminado" que pode avançar sozinho pela pradaria a combater os maus e passou a ter que contar com a influência de Instituições que estavam cá antes de ele chegar à política, e hão-de cá ficar depois de ele desaparecer da esfera da acção política. Para desgraça de muitos, o homem teve que aprender isso pela experiência.
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