domingo, outubro 01, 2006

World Press Photo

Naquele ano decidi comprar o livro de fotografias do World Press Photo. Era o ano em que tinha nascido o meu filho e eu queria que um dia ele soubesse que nesse ano, ele, sobretudo ele, mas também mais uns milhares de coisas gloriosas se tinham acrescentado ao mundo. Cometi dois erros: O ano a que o livro de fotojornalismo reporta não coincide com o ano da edição, são, claro, fotografias tiradas no ano anterior, seleccionadas e publicadas em livro no ano seguinte, e pensei, levianamente, que os acontecimentos que se somaram à história da existência na terra desse ano eram todos passíveis de ser enquadrados por uma qualquer explicação inteligível, a permitirem uma leitura do tipo "sim há coisas terríveis a passarem-se no mundo, mas depois tudo se resolve e há a possibilidade de um final feliz". Não eram histórias com final feliz. Nem eram gloriosas. De todo. Revelavam vidas sujeitas quase todas elas a uma dor e a uma violência tão dolorosa e violenta que eu fechei o livro e nunca mais o abri.

Hoje na exposição do CCB voltei a sentir essa sensação que uma onda de sangue provoca quando invade a nossa cabeça, faz zunir os ouvidos, seca a nossa boca e nos atordoa. O tempo todo como que pegados pelos ombros e pendurados na parede. E ficamos a saber que sabemos, e que vimos.

Pedro Correia, foi o grande vencedor português de 2005 com uma fotografia tirada no funeral do agente da PSP Paulo Alves.

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